terça-feira, janeiro 10, 2006

Depois, o futebol no campinho...

Voltando ao tempo de brincar de bonecas com Bega - logo depois de aprender a caminhar, correr e de ter as idéias iniciais sobre o mundo, quando passávamos longas horas de comadres -, o que realmente quero expressar é que ela era uma amiguinha supimpa e que nos divertíamos muito. Maravilhoso mundo da fantasia! Criávamos famílias e situaçoes familiares incríveis.
Do outro lado de sua casa, havia um terreno baldio - que ficava numa esquina. A molecada da redondeza convergia para este terreno - para jogar futebol, bolinha de gude, andar de bicicleta, soltar pandorga, ou simplesmente conversar. Mas, sem dúvidas, eram as partidas de futebol que reuniam mais gente. Quando falavam em "o campinho", todos sabiam que era aquele campo diminuto que, nos anos de nossa infância, parecia um campo de futebol autêntico.
Enquanto os guris brincavam no campinho, Bega e eu brincávamos no pátio de casa...até um certo momento ou uma certa idade. Pouco a pouco, em nosso processo natural de abertura ao universo, fomos ouvindo e registrando a animaçao e os gritos que vinham do campinho. Era a torcida empolgada. De repente, aqueles jogos passaram a nos interessar. Deixamos as bonecas para outros momentos e partimos para a integraçao futebolística com os guris, no terrenos baldio. Obviamente, ficamos surpresas com a rejeiçao deles. Nao entendíamos o desprezo e a agressividade que respondiam às nossas pretensoes de fazer parte das brincadeiras recém-descobertas e das equipes de futebol. Nao desistimos. Insistimos tanto que eles nos aceitaram....isso era o que acreditávamos. Ainda nao sabíamos que a prepotência masculina nao perderia esta oportunidade para demonstrar a superioridade da raça, e que este seria um exercício constante dos meninos contra as meninas. Naquela época, começamos a ter as primeiras duras liçoes sobre algumas diferenças abismais entre homens e mulheres, especialmente no que se refere à colaboraçao.
Maquiavelicamente, para que desistíssemos de nossa veia futebolística recém-despertada, eles nos colocaram no gol. E, um após o outro, e dia após dia, faziam a demonstraçao da força de seus chutes e de sua capacidade impressionante de fazer gols....em nós, goleiras - expostas à força bruta e ignorante dos meninos. Queriam nos intimidar, amedrontar e ridicularizar. Os super homens! O que eles nao imaginavam - e talvez nem nós - é que éramos mais habilidosas e persistentes que eles, e que, a cada revés sofrido - ou a cada gol -, aumentava a nossa ânsia de melhorar. Provamos nossa competêcia, elasticidade, agilidade e inteligência, na prática. Como deve ser! Sem maiores explicaçoes. Nossa açao e nossos sorrisos gritavam o nosso talento. Nao é necessário dizer que nos tornamos as melhores goleiras da redondeza. Tempos depois, eles imploravam para que nós defendêssemos o time. Como é bom lembrar disso!!!
Rio comigo mesma por estas lembranças. Gosto de rever as cenas deste filme.
Anos mais tarde, já adulta, residindo fora de Santa Maria, ao visitar a terrinha, costumava encontrar, casualmente, alguns daqueles meninos. Eles me saudavam com alegria e entusiasmo. Sei que eles aceitaram e reconheceram meu esforço e talento como goleira. Nao deixei dúvidas.
Bega também era boa. Ela sempre foi uma companheira forte e valente na luta para conquistar espaço no campinho - nao só nos jogos de futebol. Também tínhamos que lutar para jogar bolitas, soltar andorgas, trocar figurinhas, andar de bicicletas... Foi duro, mas acho que alcançamos nossos objetivos....com muito esforço, porque nao nos deixavam barato e nao nos davam nada gratuitamente. O coleguismo - esta postura masculina - sucumbiu ao nosso companheirismo. Bega e eu bordamos este triunfo em nossas histórias de vida, com cores bem vivas. Muito bom poder contar estes momentos!

4 comentários:

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É bom demais ter histórias da infância pra contar... qq dia vou contar algumas das minhas aventuras. Bela inspiração! E adoro o termo "supimpa"... acho divertido, sonoro. Supimpa mesmo! Bom lembrar.

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