sexta-feira, junho 23, 2006

Foto do Hike


Esta foto é do Hike Padilha - guri de muito talento, que está dando duro nesta banda da terra!!!! O Hike é outro santamariense perdido nesta cidade. Eu o conheci aqui. Ele é filho da Cida e do Vitor, e sobrinho da Badika e da Gringa, grandes amigas de Santa Maria. Nós vivemos muitas histórias juntas quando eu estava na adolescência e na primeira idade adulta. Depois, perdemos o contato. Agora, quase 30 anos mais tarde - putz! - reencontro minhas boas amigas através dele. É curioso ver como ele parece com elas! Na verdade, ele parece fisicamente com a Badika, sua tia, mas seu jeito de falar e de se expressar me faz recordar todas elas e os momentos maravilhosos que vivemos em outros tempos. Da mesma forma como as três irmas e eu ríamos constantemente de tudo, também me rio muito com ele, que é um guri super inteligente e que tem olhos de cineasta ou de fotógrafo - ele vê e sente os detalhes da vida de uma forma muito interessante.

terça-feira, junho 20, 2006

Veranos de la villa

Em Madri, o verao traz consigo uma programaçao cultural bastante intensa. As ruas, os teatros, os auditórios, as galerias, se enchem de arte...e de japoneses! É verdade! Eles estao em todas as partes, com suas máquinas fotográficas e seus chapéus de turistas.

Estive vendo a programaçao e percebi que a nossa cultura também vai contribuir para a alegria desta estaçao, pois teremos apresentaçoes de Toquinho, Ivete Sangalo, Gilberto Gil, Rosa Passos, Marisa Montes, e de muitas bandas brasileiras que eu desconheço. Também estarao aqui outras cantoras maravilhosas, representantes da língua portuguesa, como Dulce Pontes - maravilhosa! - e a caboverdense Cesaria Évora, que é outra maravilha!

Enfim, um verano intenso, especialmente para os que ganham muitos euros, pois cada espetáculo vale de 30 a 60 euros. Como sempre, a cultura é para quem pode pagar.

Visitas do Brasil

No dia 30, receberei minha sobrinha, Juliana. Ela e seu companheiro, Ricardo. Os dois vivem em Sampa e visitarao este país pela primeira vez. Estou contente. Muito contente.

Agora mesmo, sairei para os centros de informaçao turística a fim de buscar os folhetos que nos levarao por esta cidade linda. Os museus, galerias de arte e parques já estao anotados, mas a cidade oferece mais possibilidades, evidentemente. Gostaria que ela, que é musicoterapeuta, conhecesse melhor os ritmos espanholes. Como também sou nova aqui, vou conhecer com eles as atraçoes madrilenhas. Yessss!!!!

Receber as pessoas que chegam do Brasil é sempre uma alegria. Os ti-ti-tis nao acabam nunca. Minha sede de saber as novidades diminui um pouco. Mas só um pouco.

segunda-feira, junho 19, 2006

Surpresa cultural

O calor chegou pra valer na terra de Cervantes. Pleno verano! Me canso e me esgoto com dias assim, onde as temperaturas subterrâneas - ando muito de metrô - desta cidade se aproximam ao que deve ser o inferno legítimo.

Agora, escrevendo isso, lembrei de um tia minha, tia Marina, que passava todo o verao reclamando do calor e todo o inverno reclamando do frio. Sua reclamaçao era com o tempo, qualquer que fosse ele.

Entao, no sábado, quando vi que o dia seria exaustivo novamente, peguei uma toalha, um sanduíche, uma coca-cola, um jornal, uma revista de psicologia e um livro do Dalai Lama, e me atirei embaixo de algumas árvores centenárias. A sensaçao foi tao perfeita, que eu nao conseguia me mexer. Ali, embaixo daqueles árvores seculares, ouvi o som dos passarinhos, senti o vento fazer carinho na pele, pensei em tantas pessoas e em tantos momentos....deixei meu corpo entrar em sintonia com a natureza. Relaxei completamente...até sentir que as formigas me subiam pelos pés e me tiravam furiosamente do êxtase. Afastei as danadas e voltei a deitar. Senti que estava com preguiça até de ler. Passada uma hora em que eu só pensei e semi-dormi, abri o jornal. Fui passando as páginas devagarinho, sem muita energia e interesse, quando, de repente, numa página inteira da seçao de cultura, vejo o meu Chico Buarque. Uma página inteira! Com foto e tudo! Minha energia e meu interesse se chocaram um contra o outro, se sacudiram e voltaram à tona, imediatamente. Ali estava ele, mais velho, delgado e sábio.
Grande! Inigualável! O jornal o comparava, como letrista, a Bob Dylan. Eu, na minha modesta opiniao, acho que ele é um gêêênio.

Adoro quando outras culturas reverenciam a arte e os talentos existentes na nossa terra!

Despedidas e admiraçao

Nos meus 6 anos de Espanha, recebi notícias que me deixaram extremamente triste e com o coraçao murcho. Uma delas foi o falecimento de meu pai.

No ano 2002, minutos depois da vitória do Brasil na Copa do Mundo, recebi o telefonema de um irmao. Pensei que ele me ligava para celebrar a vitória do Brasil. Mas foi um engano meu. Ele me comunicava que o médico de nosso pai havia prognosticado apenas algumas horas de vida para este. Fui ao aeroporto na mesma hora e comprei uma passagem. Voei até Madrid - eu vivia em Bilbao - e liguei para meu irmao. Nosso pai permanecia vivo. Entao, fiz o percurso mais longo, de Madrid a Sampa. Liguei novamente ao chegar em Sampa, e ele se mantinha vivo. Esperei duas horas e peguei um aviao para Porto Alegre. Nesta cidade, liguei outra vez para meu irmao e ele confirmou que nosso pai se resistia na despedida. De Porto Alegre, peguei um ônibus para Santa Maria. Quando cheguei nesta cidade, depois de muitas horas de viagem, meu irmao me esperava com um forte abraço. Nosso pai ainda tinha sinais vitais. Corremos para o hospital. Meu outro irmao, de Recife, já tinha chegado. Ali, ao lado de nosso pai, nos mantivemos por algum tempo. Sua respiraçao parava e voltava a retomar seu ritmo. Houve um momento que pensamos que ele tinha parado de respirar definitivamente, mas ele voltou a realizar o movimento respiratório. Passadas algumas horas, seu estado se normalizou mais. Quando nos preparávamos para deixar o hospital, ele abriu os olhos. Nao sabíamos se nos via ou nao. Intuíamos que sim, pois ele movia os olhos de um filho para o outro. Falávamos com ele, mas ele nao respondia. Passados uns minutos assim, ele balbuciou: "O que vocês estao fazendo aqui?" Rimos com a pergunta e respondemos que estávamos ali para acompanhá-lo. Ele se sentiu tao bem com a nossa companhia, que melhorou instantaneamente. Nao morreu. Nao, naquela época. Ele melhorou, voltou para casa, caminhou, riu, comeu, passeou...Morreu dois anos depois, em casa, quando nao tivemos tempo para acompanhá-lo. Meus irmaos - um do Recife e outro de Brasília - conseguiram chegar em Santa Maria para o enterro. Eu, nao. Junto dele estiveram, também, seus amigos de alma. Seus amigos eram muito importante para ele. Era uma outra família, onde todos comungavam dos mesmos princípios e filosofias. Estes amigos significativos estiveram em sua despedida. Muitos deles também se deslocaram de distintos pontos do Brasil.

Recebi a notícia de madrugada. Uma madrugada fria e chuvosa, aqui. Foi uma surpresa amarga. Passei toda o resto da madrugada ao telefone, falando com meu irmao e com as pessoas que chegavam para ajudá-lo. Enquanto Felipe tomava as providências necessárias, eu acompanhava seus movimentos e sentimentos à distância.

Felipe cuidou exemplarmente de meu pai e de minha mae, falecida há 20 anos. Na saúde e na doença, nunca saiu de perto deles. É possível que, por este motivo, ele tenha sentido mais fortemente a orfandade. Sei lá...sentimentos nao se podem medir. A minha percepçao é que todos ficamos bastante abalados com estas perdas, e que cada um reagiu de acordo com sua individualidade. Mas, sem nenhuma dúvida, o vazio das relaçoes verticais se instalou em nossas vidas de forma definitiva.

Enfim, sentei aqui para escrever sobre a tristeza de receber certas notícias, quando estamos longe. Quando estamos perto, pelo menos podemos expressar mais efetivamente nossa dor e nosso desalento com os fatos, e isso ajuda a cerrar etapas. Na distância, fica o vazio e a angústia.

O que remexeu estas lembranças foi a morte de uma pessoa especial. Ontem, recebi a notícia do falecimento de Dona Josefa. Ela era a mae de uma amiga muito querida. Numa época de minha vida, eu vivi muitas horas na casa desta família. Eram horas felizes. D. Josefa sempre me recebeu com um sorriso enorme e com a bondade estampada em seu rosto. Me tratava como outra filha. Me chamava de Gunga. Ela era daquelas pessoas que têm brilho nos olhos. Nao esqueço de seus olhos e de sua risada.

No momento de seu enterro, quando fechavam o túmulo, o Brasil inteiro explodiu num grito de gooooooool. Era a despedida de uma grande pessoa.

Um abraço e a minha admiraçao, D. Josefa!