segunda-feira, abril 17, 2006

Beckham e o colar

A TV nao pára de contar que Beckham comprou um colar da firma Bulgari, de 11 milhoes de euros, para sua mulher, Victoria. Ela, por sua vez, nao pára de contar que nunca leu um livro em sua vida, porque nao teve tempo. E eu, impressionada, nao páro de tentar imaginar a quantidade de dinheiro - em reais - da cifra estratosférica citada...mas nao consigo! Meus neurônios nao alcançam esta matemática. Só consigo fazer cálculos como o salário dos professores, os anos que eles estudam, a quantidade de livros que lêem, o ínfimo salário que sustenta milhoes de famílias - sem contar a miserabilidade e a fome que existe no mundo. Enfim, a realidade que eu vivo nao me permite alcançar o sentido de atos assim.

Viagem

Para os meus leitores amigos, aviso que estarei uns dias desconectada, por motivo de viagem. Sentirei saudade de estar neste espaço, lendo os textos de vcs e escrevendo os meus. Até breve!

Preconceito lingüístico

Um dos meus ídolos brasileiros chama-se Marcos Bagno, um jovem professor de Lingüística da UnB, que estudou na UFPE e que fez doutorado na USP. Ele fala no preconceito lingüístico de uma forma instigante, que abre nossos olhos para a forma como ocorre discriminaçao e exclusao das pessoas que nao falam/escrevem corretamente - dentro da perspectiva da língua dita culta. Palavras suas: “O preconceito lingüístico está ligado, em boa medida, à confusao que foi criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais urgente é desfazer esta confusao. Uma receita de bolo nao é um bolo, o molde de um vestido nao é um vestido, um mapa- múndi nao é o mundo...também a gramática nao é a língua.” (Preconceito Lingüístico, Sao Paulo: Loyola, p.9, 2001)

Ele compara a língua a um enorme iceberg; e a gramática, à parcela visível deste iceberg. Neste sentido, ele afirma que, na gramática, a visao da língua é parcial e que ela nao pode ser aplicada autoritariamente à língua, que é muito mais ampla e profunda que as normas criadas.

Bagno explica que o brasileiro tem dificuldades em utilizar as regras do português padrao porque, entre outros motivos, o português padrão está muito distante da realidade lingüística dos brasileiros. E é verdade. É como se fossem duas línguas distintas. Para ele, a missão da escola é levar os alunos a se apoderar das formas prestigiadas de falar e de escrever, mas sem discriminar a fala original, sem fazer qualquer tipo de atitude preconceituosa com a variedade lingüística que o aluno traz para a escola. Trata-se de aumentar a bagagem cultural dele, aumentar o seu repertório lingüístico, e não de substituir uma forma considerada errada por uma forma supostamente certa. Este autor insiste em que todas as formas de falar são igualmente válidas e a função da escola é apresentar para o aluno aquilo que ele ainda não sabe.

É interessante ver como ele critica as propostas de pessoas como o Prof. Pasquale, que utilizam os meios de comunicaçao para defender o uso correto do português. Correto do ponto de vista de quem? Segundo ele, essas pessoas não estão integradas ao estudo efetivo, ao estudo científico da realidade lingüística no Brasil e suas variaçoes. Elas tentam transmitir uma língua padronizada extremamente formalizada e muito antiquada, até defendendo regras que os próprios gramáticos profissionais reconhecem que estão obsoletas. Em uma entrevista dada ao site da UFMG (http://paginas.terra.com.br/educacao/marcosbagno), Marcos Bagno refere-se a estas pessoas como “os atuais pregadores da tradição gramatical que infestam o quotidiano dos brasileiros com suas quinquilharias multimidiáticas sobre o que é certo e errado na língua."

Sem dúvidas, através de suas palavras entendemos a importância de reconhecer as variaçoes da língua portuguesa brasileira (expressao sua). Claro que isso nao minimiza a importância da língua padrao, mas faz com que os professores e estudiosos procurem entender a sociolingüística e, principalmente, o direito que as pessoas têm de falar do jeito que falam e de usar as variedades locais, regionais e sociais, sem serem discriminadas por isso.

Segundo Bagno, um exemplo de preconceito lingüístico é o da Rede Globo em relaçao aos nordestinos. Em qualquer novela, o personagem nordestino está representado por um tipo grotesco, esquisito, raro, atrasado, ridículo, normalmente pobre, que só provoca riso e deboche dos outros. No plano lingüístico, os atores nao-nordestinos fazem uma imitaçao imperdoável, que nao tem nada a ver com a realidade da língua falada naquela regiao. Esta atitude é uma forma de marginalizaçao e de exclusao. A idéia que a Rede Globo passa é que o nodeste é atrasado, pobre e subdesenvolvido e que as pessoas que vivem lá também sao atrasadas e, portanto, nao devem ser levadas em consideraçao.

É imprescindível que nos conscientizemos de que a língua é dinâmica e que está em constante processo de mudança e de evoluçao. Além disso, é preciso entender que existem diferenças de uso e que existem muitas alternativas em relaçao à regra única proposta pela gramática normativa. Respeitar a forma de falar/escrever das pessoas é igual a respeitá-las como seres humanos.

Acho que já tá claro que eu adoro ler textos e estudos que se referem à Lingüística, à Sociolingüística, à Psicolingüística....!!!! E o Prof. Marcos Bagno é uma leitura fácil e interessante. Penso que ele é uma espécie de Paulo Freire da Lingüística. Dá gosto ler suas reflexoes.

domingo, abril 16, 2006

O integrismo católico


Domingo de Páscoa e o Papa na TV. Fico olhando atentamente a figura deste senhor. Penso em seus atos recentes. Ele, devagarinho, vai empurrando o pêndulo histórico-religioso para a extrema direita.

Os jornais noticiam uma discreta perseguiçao aos seguidores da Teologia da Libertaçao. Para o Papa, estes chegaram longe demais em sua aproximaçao marxista. Religiosos franciscanos, dominicanos e jesuítas - ala que foi considerada mais progressista ou vanguardista da Igreja - que trabalham e tentam organizar as comunidades mais pobres, em países subdesenvolvidos, estao sendo substituídos pelos fiéis seguidores da política de Ratzinger. Época dura para os progressitas! Os pobres já nao interessam à Igreja Católica. Eles nao têm poder. Agora, a Igreja Católica se volta para as elites da sociedade, através de movimentos como o Opus Dei e Legionários de Cristo, que representam o integrismo católico e que ganham terreno rapidamente no ocidente religioso. Esta aproximaçao começou no reinado de Joao Paulo II e vai-se acentuando nitidamente no reinado de Ratzinger. Os novos exércitos do Papa circulam nas esferas mais altas da sociedade e é justamente aí que está o perigo. Os ricos, sim, têm o poder.

Infelizmente, a Espanha é um dos países que melhor acolhe estes dois movimentos, depois da Itália. Através de bons colégios e de faculdades, os adeptos do Opus Dei e dos Legionários de Cristo penetram e atuam na sociedade de forma inequívoca. Cada dia se tem mais notícias destes movimentos e das personalidades que participam ativamente neles. Aqui, eles ocupam cargos importantíssimos na direita conservadora e pensam em recristianizar o mundo, dentro de sua visao totalitária. Como dizem os espanhóis, ¡Joder! Até onde eles conseguirao avançar? Até onde irá o integrismo católico?

Vale a pena ler o blog do meu amigo Sean, que escreveu hoje sobre a nova provocaçao do acidente à civilizaçao muçulmana. E a provocaçao partiu de uma revista chamada Studi Cattolici (do movimento Opus Dei). É triiiiiiiste! Nao querem deixar os muçulmanos em paz. Cutucam de todos os lados, para, depois, pousarem de pobres vítimas dos barbudos. Os fanáticos sao eles.

Um alemao famoso já provocou milhoes de mortes de judeus inocentes. É mais que desejável que o pontíficie alemao se esforce por promover a paz e a serenidade entre os povos e culturas. Isso é o desejável, mas nao sabemos o que vai acontecer - ou sabemos.

Penso que personalidades como Ratzinger, Bush, Sharon...nao conseguem ter uma visao holística das situaçoes que se apresentam. Eles defendem cegamente um lado, apenas. A minha esperança repousa no fato lógico de que eles passarao, um dia. E, como o mundo é dinâmico, o pêndulo histórico voltará a mover-se em sentido inverso.

Arrivedercci, Berlusconi

Berlusconi, enfim, reconheceu sua derrota eleitoral. Demorou! Seu narcisismo nao permitia tal reconhecimento. Ele insistia no assunto da fraude, quando ninguém mais queria ouvir suas lamúrias. Os italianos estavam bastante cheios de sua política e sabiam que seus interesses prioritários dirigiam-se aos lucros de suas empresas e de seus amigos pessoais.

Ficou bastante evidente a manipulaçao de Berlusconi na lei eleitoral. Na última hora, pouco tempo antes das eleiçoes, ele modificou esta lei, de forma que o beneficiasse. Mas nao foi o que aconteceu. O resultado foi inesperado para ele e para sua quadrilha.

Berlusconi foi o maior aliado de Bush e de Blair, na Europa, principalmente no que se refere a guerra do Iraque. Por isso estas duas pérolas da contemporaneidade se resistem a parabenizar o novo dirigente italiano, Romano Prodi - que prometeu retirar as tropas italianas desta guerra infame.

A Itália, berço do Renascimento, com tantas belezas históricas e naturais, está vivendo um período bastante caótico, onde os serviços estatais quase nao funcionam, a corrupçao está em todos os lugares e o desenvolvimento arrefeceu drasticamente. Dizem os jornais que a Itália parou no tempo, que leva 20 anos de atraso em relaçao países europeus mais desenvolvidos e que milhares de italianos saem de seu país, em busca de novos horizontes e de melhor qualidade de vida. Surpreendente! Prodi vai ter uma tarefa difícil pela frente.