segunda-feira, abril 17, 2006

Preconceito lingüístico

Um dos meus ídolos brasileiros chama-se Marcos Bagno, um jovem professor de Lingüística da UnB, que estudou na UFPE e que fez doutorado na USP. Ele fala no preconceito lingüístico de uma forma instigante, que abre nossos olhos para a forma como ocorre discriminaçao e exclusao das pessoas que nao falam/escrevem corretamente - dentro da perspectiva da língua dita culta. Palavras suas: “O preconceito lingüístico está ligado, em boa medida, à confusao que foi criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais urgente é desfazer esta confusao. Uma receita de bolo nao é um bolo, o molde de um vestido nao é um vestido, um mapa- múndi nao é o mundo...também a gramática nao é a língua.” (Preconceito Lingüístico, Sao Paulo: Loyola, p.9, 2001)

Ele compara a língua a um enorme iceberg; e a gramática, à parcela visível deste iceberg. Neste sentido, ele afirma que, na gramática, a visao da língua é parcial e que ela nao pode ser aplicada autoritariamente à língua, que é muito mais ampla e profunda que as normas criadas.

Bagno explica que o brasileiro tem dificuldades em utilizar as regras do português padrao porque, entre outros motivos, o português padrão está muito distante da realidade lingüística dos brasileiros. E é verdade. É como se fossem duas línguas distintas. Para ele, a missão da escola é levar os alunos a se apoderar das formas prestigiadas de falar e de escrever, mas sem discriminar a fala original, sem fazer qualquer tipo de atitude preconceituosa com a variedade lingüística que o aluno traz para a escola. Trata-se de aumentar a bagagem cultural dele, aumentar o seu repertório lingüístico, e não de substituir uma forma considerada errada por uma forma supostamente certa. Este autor insiste em que todas as formas de falar são igualmente válidas e a função da escola é apresentar para o aluno aquilo que ele ainda não sabe.

É interessante ver como ele critica as propostas de pessoas como o Prof. Pasquale, que utilizam os meios de comunicaçao para defender o uso correto do português. Correto do ponto de vista de quem? Segundo ele, essas pessoas não estão integradas ao estudo efetivo, ao estudo científico da realidade lingüística no Brasil e suas variaçoes. Elas tentam transmitir uma língua padronizada extremamente formalizada e muito antiquada, até defendendo regras que os próprios gramáticos profissionais reconhecem que estão obsoletas. Em uma entrevista dada ao site da UFMG (http://paginas.terra.com.br/educacao/marcosbagno), Marcos Bagno refere-se a estas pessoas como “os atuais pregadores da tradição gramatical que infestam o quotidiano dos brasileiros com suas quinquilharias multimidiáticas sobre o que é certo e errado na língua."

Sem dúvidas, através de suas palavras entendemos a importância de reconhecer as variaçoes da língua portuguesa brasileira (expressao sua). Claro que isso nao minimiza a importância da língua padrao, mas faz com que os professores e estudiosos procurem entender a sociolingüística e, principalmente, o direito que as pessoas têm de falar do jeito que falam e de usar as variedades locais, regionais e sociais, sem serem discriminadas por isso.

Segundo Bagno, um exemplo de preconceito lingüístico é o da Rede Globo em relaçao aos nordestinos. Em qualquer novela, o personagem nordestino está representado por um tipo grotesco, esquisito, raro, atrasado, ridículo, normalmente pobre, que só provoca riso e deboche dos outros. No plano lingüístico, os atores nao-nordestinos fazem uma imitaçao imperdoável, que nao tem nada a ver com a realidade da língua falada naquela regiao. Esta atitude é uma forma de marginalizaçao e de exclusao. A idéia que a Rede Globo passa é que o nodeste é atrasado, pobre e subdesenvolvido e que as pessoas que vivem lá também sao atrasadas e, portanto, nao devem ser levadas em consideraçao.

É imprescindível que nos conscientizemos de que a língua é dinâmica e que está em constante processo de mudança e de evoluçao. Além disso, é preciso entender que existem diferenças de uso e que existem muitas alternativas em relaçao à regra única proposta pela gramática normativa. Respeitar a forma de falar/escrever das pessoas é igual a respeitá-las como seres humanos.

Acho que já tá claro que eu adoro ler textos e estudos que se referem à Lingüística, à Sociolingüística, à Psicolingüística....!!!! E o Prof. Marcos Bagno é uma leitura fácil e interessante. Penso que ele é uma espécie de Paulo Freire da Lingüística. Dá gosto ler suas reflexoes.

6 comentários:

Ana disse...

Tua paixão por "ler textos e estudos que se referem à Lingüística, à Sociolingüística, à Psicolingüística" é uma bênção, na medida em que divides estes conhecimentos e nos "apresenta" a pessoas sensíveis como este professor!
Adorei a forma como ele encara as regionalidades, as diferenças culturais. E, como sempre, adorei a forma como tu nos aproxima destas abordagens!

Anónimo disse...

Thelma

Li uma reportagem na revista "nova escola" deste mês, onde alunos de 7ª e 8ª séries do interior baiano, descobrem a riqueza das expressões regionais deixando de lado o preconceito linguístico.
Achei maravilhoso!!!

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