sábado, fevereiro 11, 2006

A foto do ano

A fotografia Mae e filho em um centro de alimentaçao de emergência em Tahoua, Níger, foi a ganhadora do prêmio World Press Photo, no ano 2005. Este é o prêmio mais importante de fotografia jornalística. Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Esta foto grita o drama da África.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Flor de ir embora

Acho que uma grande parte dos blogueiros é tao jovem que nao conhece Fátima Guedes. Ela é uma das grandes!

Flor de Ir Embora

Flor de ir embora
É uma flor que se alimenta do que a gente chora.
Rompe a terra decidida.
Flor do meu desejo.
De correr o mundo afora.
Flor de sentimento.
Amadurecendo aos poucos a minha partida.
Quando a flor abrir inteira.
Muda a minha vida.
Esperei o tempo certo.
E lá vou eu.
E lá vou eu.
Flor de ir embora.
Agora esse mundo é meu.

Um anjo que partiu

No dia 2 de fevereiro, neste blog, escrevi um texto sobre os dois anjos que encontrei em Bilbao. Estava me referindo às duas senhoras que eu cuidei durante 5 anos. Hoje, uma delas partiu. Com 86 anos, Begoña foi para junto de outros anjos.
Para ela, meu afeto, minha admiraçao e meu agradecimento!

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Drummond


Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

A Gueisha

Fui assistir ao filme Memórias de uma Gueisha. Adorei! Saí do cinema pensando na vida destas criaturas exóticas e surpreendentes. Aprendi que uma gueisha é uma artista. O sinônimo da palavra gueisha é artista. Elas vendem a arte, mas nao vendem o corpo. Simplesmente, distraem os homens tocando músicas, bailando, cantando e dialogando.

A história é passada entre 1920 e o fim da II Guerra Mundial. É a vida de uma menina desde seus 9 anos, quando ela é vendida para uma casa de gueishas. Além de seu crescimento e de sua aprendizagem como gueisha, o filme relata a forma como ela esconde seu segredo.

A beleza plástica dos cenários e a música de John Williams sao o ponto alto do filme. As artistas também estao geniais!

É uma pena que seja um filme fadado a ter pouco êxito de público. A comercilizaçao da civilizaçao japonesa, pelo menos no cinema, nao apresenta maiores interesses para a civilizaçao ocidental.
Completamente diferente da história dos caubóis americanos...

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Lua adversa

Cecília Meireles

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Música é perfume

Recentemente, vi o documentário da musa da música popular brasileira, Maria Bethânia. Vi numa sala da Espanha, que, para minha surpresa, lotou.
O filme, de Georges Gachot, repassa as histórias familiares da cantora, com a presença de Caetano e de D. Canô, que é uma simpatia! Também repassa seus momentos profissionais, com a participaçao de Chico Buarque, Nana Caymmi e Miúcha.
O melhor de ver estes documentários aqui - o último que vi foi o de Carlinhos Brown, O milagre de Candeal - é que se ouve a voz dos participantes, na sua forma original.
Explico: aqui, na Espanha, todos os filmes sao dublados. Isso é terrível! Nao se ouve jamais as vozes originais e o idioma do filme, com suas características expressivas e seus tons particulares. Para mim, perde-se muito com as dublagens.
A alegria de ver os documentários brasileiros no cinema é poder ouvi-los falar o brasileiro, que é música nos meus ouvidos.

Um monte mágico

Perto de Bilbao, num pueblo chamado Durango, existe um parque natural onde se destaca um monte muito lindo: o Urkiola. Na minha opiniao, este monte tem magia. Só nao vê quem nao quer. É um lugar maravilhoso para caminhar e para pensar. Num extremo deste monte existe um mirante que nos causa surpresa, tanto pelo nome como pela verdade do nome: onde se escuta o silêncio.
Ali, o silêncio é absoluto. Nada se move, só nossa respiraçao e nosso êxtase.

domingo, fevereiro 05, 2006

Que bonito!!!!!!!

Acabo de ver na TV imagens do povo dinamarquês na rua, durante todo o domingo, passeando com cartazes de pedidos de desculpas aos muçulmanos. Crianças, adultos e idosos carregando cartazes com a palavra "Sorry!"
O povo expressa seu posicionamento, que nao tem nada a ver com a postura anti-muçulmana que invade o ocidente. A publicaçao das caricaturas foi um erro, eles reconhecem e pedem desculpas. Que bonito! O senso comum dos dinamarqueses entendeu que havia sido uma ofensa, e nao uma simples liberdade de expressao - como quiseram matizar os jornalistas e os políticos. Uma liçao!

Recife na folia


Faltando um mês para o carnaval, já foi divulgada a programação das prévias carnavalescas e dos dias de Momo, em todos os pólos de folia na capital pernambucana. Que festao impressionante! Uma festa realmente democrática e colorida.
Este ano - que bom!!! - o carnaval vai homenagear o escritor Ariano Suassuna e o cantor Claudionor Germano. Yesss!!!! Eu vibro, mesmo de longe. Adoro o Ariano Suassuna! Também curto o Claudionor Germano.
Serão mais de 150 atrações, entre elas, os cantores Alceu Valença, Antônio Carlos Nóbrega, Lenine, Elba Ramalho, Gabriel O Pensador e Martinho da Vila.
A abertura será novamente com Naná Vasconcelos - que arrepia a todos - comandando 400 batuqueiros de 11 nações de Maracatu. Este espetáculo é emocionante!!! Naná arrasa! E a gente sente as células do corpo se movendo no ritmo que ele faz, ou como ele quer.
Nos outros dias, Antônio Carlos Nóbrega, Elba Ramalho e a Spok Frevo Orquestra. Também Lenine, com a participação especial de Zélia Duncan, Vanessa Da Mata e Gabriel O Pensador
No domingo, gente, Antúlio Madureira!!! Que maravilha! Que saudade!
Realmente dá uma saudade enorme.
Como as pessoas sabem que eu curto muito esta festa popular, no Recife, começam a me mandar notícias. Já soube que as ladeiras de Olinda vao sendo enfeitadas e coloridas, e que os ensaios já movimentam o pessoal.
Desejo a todos uma feliz festa!!!! Ergam as maos para o céu, cantem, dancem e divirtam-se muito, acompanhando o Bloco da Saudade, o Lili e outros tantos.
Vi, no blog da Denise Arcoverde, (www.sindromedeestocolmo.com) , a música do Madeira do Rosarinho. Que emoçao! Lembrei da Beta, que chora cantando esta música. Também lembrei das grandes amigas, carnavalescas ausentes, que certamente estarao dançando lá no céu: Lidia e Cândida. Um beijo às duas!
Boa folia a todos!!!!

Caricaturas e incoerências

Qualquer jornalista do mundo ocidental sabe que entre os muçulmanos existe uma lei que proibe a representaçao do profeta Maomé, inclusive se a representaçao fôr boa, favorável.
Flemming Rose, o redator chefe do suplemento de cultura do jornal Jyllands-Posten, da Dinamarca, em nome da liberdade de expressao, contrariou voluntariamente esta lei dos muçulmanos. E afirma que nao se arrepende.
Este profissional, de 47 anos, que encaixa na categoria de intelectual neoliberal do século XXI - partidário das liberdades individuais e da economia de mercado -, é defensor da política dos Estados Unidos.
Segundo ele, "nunca um país fez tanto pela humanidade e recebeu tao pouco agradecimento". Impressionante!
Como um autêntico ariano, ele é contra a imigraçao e afirma que os muçulmanos sao fanáticos, dogmáticos e têm a disposiçao de usar a violência contra os que nao compartem a sua opiniao.
Este homem, em sua cruzada particular, detonou um conflito de grandes e imprevisíveis dimensoes, com a publicaçao de doze ilustraçoes (vinhetas), onde o profeta Maomé aparece como terrorista, com uma bomba no turbante.
O mundo islâmico se levantou em peso!
Hoje, domingo, muitos jornais europeus estampam em suas primeiras páginas que "muçulmanos fanáticos queimam embaixadas européias" ou "muçulmanos exaltados arrasam embaixadas européias", atribuindo aos muçulmanos o empenho em cortar qualquer possibilidade de entendimento entre Ocidente e Oriente. Eles sempre sao os loucos e os fanáticos. Assim o Ocidente mostra o Oriente: como um bando de loucos, que nao pensa, nao raciocina, nao dá valor à vida, nao sente amor...por isso é necessário tutorizá-los e, de quebra, ficar com suas riquezas.
Depois de ler muitas reportagens, de perceber a uniao dos jornalistas no que se refere a este tema e de sentir uma crescente inquietude em meu peito com os argumentos que encontrava sobre os usos do artigo 19, da Declaraçao Mundial dos Direitos Humanos, que diz que "todo individuo tem o direito à liberdade de opiniao e de expressao..", encontrei no texto do Prof. Agustin Velloso, da UNED, um momento de sintonia e de relaxaçao. Respirei aliviada por encontrar alguém que escrevia o que eu sentia. Pensava que estava fora do meu juízo, lendo tanta defesa aos direitos humanos e à liberdade de expressao, sem nenhuma alusao às infinidades de desrespeitos e de invasoes que estes povos vêm sofrendo.
O Prof Velloso, no jornal El Mundo, mostra a incoerência destes discursos. Os mesmos que agora dizem que nao podem meter-se no assunto das caricaturas, porque nao podem violar o direito à liberdade de expressao, sao os que há anos nao páram de provocar o derramamento de sangue no Iraque, no Afeganistao e na Palestina. Ou seja, esta civilizaçao judeu-crista que, sem base legal, mata a milhares de muçulmanos, e invade, ocupa e arrasa com seus países. Mas, neste momento, têm as maos atadas pelo direito à liberdade de expressao.
Segundo o Prof. Velloso, é preciso ter um paladar moral extraordinário para defender o direito dos caricaturistas cristaos ao mesmo tempo em que assassinam a crianças e mulheres muçulmanas com o fim de resgatá-las de sua civilizaçao intolerante, atrasada e incivilizada. Esta consideraçao é a dos resgatadores (que o professor chama de assassinos), e nao a das vítimas.
Em sua argumentaçao, o Prof. faz a inversao dos fatos: os exércitos do Iraque, Afeganistao e Palestina invadem a Dinamarca - sem autorizaçao das Naçoes Unidas e justificando o ataque através de uma busca de armas massivas - e matam milhares de dinamarqueses. Fazem isso, evidentemente, pelo bem dos dinamarqueses - que ninguém duvide disso! -, para livrá-los de uma civilizaçao inferior e prejudicial para eles. No momento em que o sentimento de superioridade espiritual e de força de coalisao se expandem na terra dos dinamarqueses, um caricaturista iraquiano desenha a rainha sodomizada com um crucifixo. A piada é difundida pelos diários árabes e defendida por intelectuais e políticos. Será que os europeus permaneceriam serenos com a piadinha?
Atualmente, em diversos países europeus está proibido por lei negar o Holocausto judeu e, inclusive, colocar em dúvida o número de mortos ou os métodos de extermínio utilizados. A pena, para quem se atrever a negar este fato, é a perda da liberdade e uma boa multa. Nao se pode duvidar deste fato, porque é uma ofensa ao povo judeu. Super válido! Mas nesta mesma balança, entao, nao se pode ofender os sentimentos dos muçulmanos. Tratamentos iguais. Mas nao é assim que acontece na realidade, infelizmente.
Os jornalistas falam em liberdade de expressao. Esta liberdade é realmente necessária em todas as partes do mundo. Mas estes mesmos jornalistas falam sobre o Holocausto muçulmano que o Ocidente está promovendo? Onde está escrito na Declaraçao de Direitos Humanos que os avioes de combate debem lançar suas bombas em refúgios de crianças, à noite, quando estas estao entregues ao sono? Isso nao caracteriza crime hediondo, bárbaro, horripilante? O que fazem as Naçoes Unidas quando o extermínio é dos muçulmano?
O Ocidente, em sua tremenda prepotência, impoe aos muçulmanos uma tremenda humilhaçao. Até quando?
Neste momento, só posso acreditar que interessa aos ocidentais que a ocupaçao ilegal das terras muçulmanas e o extermínio dos árabes encontre uma boa justificativa na intolerância religiosa e na cultura pouco respeitosa com os valores ocidentais. Provocamos discreta e inteligentemente os muçulmanos, e, depois, nos fazemos de vítimas do fanatismo deles.
Nao existe barreiras e nem limites que o Ocidente nao tenha violado em sua relaçao com o Islao. Uma caricatura nao tem importância nenhuma, se nao viesse precedida por um martírio que nao se extingue mais.
Finalizando, coloco umas palavras do Prof. Velloso: "talvez o Ocidente acredite que possa seguir ferindo corpos e almas impunemente durante o tempo que queira. Mas tudo nesta vida tem limite, nao só a liberdade de expressao, mas a prepotência, o abuso, a humilhaçao. O único que eu posso fazer é pedir perdao."
Está claro que os muçulmanos nao sao melhores e nem piores: sao simplesmente diferentes! E isso nao é um delito que eles tenham que continuar pagando com suas vidas. As ofensas, as invasoes e o desprezo contínuo à sua cultura só podem provocar atos hostis e agressivos. Pisem com bastante força e raiva no pé de uma pessoa e observem o movimento instintivo, reativo e natural.
Neste momento, sobram olhares que querem separar as diferenças e faltam olhares que queiram promover a vinculaçao e a integraçao destas diferenças.

A paz mundial


A mídia, nos últimos dias, afirma que a possibilidade do Irã fabricar a bomba atômica, além de nao cumprir um tratado contra a proliferaçao nuclear, coloca em perigo a paz mundial. Concordo! O que nao concordo é que Estados Unidos, França e Inglaterra possam ter bombas atômicas, sem representar um perigo à paz mundial. Também nao concordo que estes três países determinem tudo, inclusive quem pode ter bomba e quem nao pode. O mais lógico e indicado para a paz mundial é que todos se desfaçam de suas bombas. Simples! A mesma lei para todos.
É bom lembrar que os únicos que lançaram uma bomba atômica foram os Estados Unidos, portanto, os discursos sobre o risco à paz mundial estao invertidos e fantasiados de pomba branca.
A paz mundial acontecerá no dia em que o Ocidente deixar de impôr suas leis e normas ao Oriente, aceitando e respeitando as diferenças existentes. A paz passa pelo respeito, pelas boas intençoes, pela ética, pela coerência e pelo esforço verdadeiro na direçao do entendimento, entre outras coisas, e nao pela imposiçao.