sábado, abril 01, 2006

Terapia e dança tribal

Recebi um email de Silvia, uma amiga do Recife, onde ela comentava que havia saído do trabalho tao esgotada e sem energia que, ao chegar à rua, tinha abraçado uma árvore enorme, com a intençao de recarregar energias. Ela acrescenta - em sua mensagem - que as pessoas devem ter estranhado muito esta cena. Pode ser.

Este fato me fez lembrar de um workshop que eu participei há uns 10, 12 anos, no Recife. Um psicólogo estadunidense, Ron Robbins, PhD em Bioenergética, foi convidado pelo Libertas, para realizar umas sessoes de terapia grupal nesta cidade. Foram 3 dias, em regime intensivo e de internato. Éramos 24 pessoas e todos fazíamos terapia - individual ou de grupo - no Libertas. O workshop foi realizado num convento, no alto de Olinda, num lugar sem contato direto com a cidade e com uma paisagem magnífica. Embora este trabalho terapêutico tenha sido realizado no convento, ele nao teve nada a ver com a religiao católica. O Libertas simplesmente alugou um espaço apropriado para este tipo de evento, com saloes enormes, com refeitório e com quartos para cada duas pessoas. As freirinhas só apareciam nas horas de servir as refeiçoes.

Através das janelas do convento, víamos árvores, coqueiros, pássaros, sol, lua, estrelas... O contato com a natureza e o silêncio aguçavam nossa percepçao em relaçao à magia do lugar. Entramos no convento numa quinta-feira à noite e saímos no domingo à noite.

Ron Robbins trouxe sua esposa, Gloria, também psicóloga, como assistente ou coterapeuta. A terapia começou na sexta-feira, cedinho da manha. Passamos o primeiro dia imersos em nossas dores e tristezas, e nas dores e tristezas dos demais participantes. Uma experiência riquíssima, mas bastante difícil.

No final do primeiro dia, quando já estava escurecendo, Gloria, que tinha passado todo o dia muito atenta à energia e à abertura do grupo, perguntou se queríamos despedir o dia de terapia coletiva com uma dança tribal dirigida à mae natureza. Embora exaustos pela intensidade das vivências daquele dia, concordamos em aprender a dança. Eram poucos passos e cada passo ia acompanhado por um som distinto. Ela explicou tudo e repetiu os movimentos e os sons várias vezes, para que aprendêssemos bem. Inicialmente, começamos brincando e rindo, tímidos pela novidade, mas, em poucos minutos, estávamos sincronizados - corporal e vocalmente. Foi impressionante!!!

A dança mexeu com todos. Aquele conjunto de vozes produzia um som extremamente forte, que atravessava os portoes e os muros do convento, penetrando na noite olindense e nas matas que existiam atrás do convento. Repetimos a dança umas 5 vezes, encantados. Terminamos o dia em perfeita harmonia.

No dia seguinte, terapia novamente. Antes de terminar o dia, já estávamos pedindo para dançar. Entao, Gloria explicou sua origem indígena, e alguns significados dos movimentos e dos sons da dança. Ela realmente tinha feiçoes de indígena. Depois desta explicaçao, ela propôs ensinar uma outra dança. Estávamos entusiasmados com este plus que ela estava proporcionando a todos nós. Ron Robbins era muito bom como terapeuta de grupo, mas Gloria nao ficava atrás. Ela, que deveria ser a coterapeuta, também tinha luz e iluminava os caminhos do grupo.

No final do último dia, antes da dança esperada, eles solicitaram que saíssemos do convento, que buscássemos uma árvore e que falássemos para esta árvore alguma coisa que desejávamos realmente dizer a alguém, mas que nunca tínhamos conseguido expressar - para um pai, uma mae, um marido, um filho, etc...Segundo a recomendaçao deles, depois de tudo falado e expressado, devíamos tentar nos reconciliar com a situaçao.

Foi um momento tocante! Choramos, rimos, babamos, xingamos, gritamos...cada um de seu jeito e com sua árvore. No final, estávamos todos abraçados às nossas àrvores, com a sensaçao de que o problema estava resolvido. Eu, que tinha umas lindezas para dizer ao meu pai, saí dali tranquila e serena.

Voltamos para o interior do convento e para a dança tribal da despedida. Este foi o momento mais bonito de todos os dias, na minha opiniao. Nunca cantamos tao alto, tal limpo e tao lindo! Nossas vozes e nossos movimentos demonstravam que estávamos soltos, desinibidos, inteiros, harmônicos e em paz.

A verdade é que chegamos àquele convento ansiosos, nervosos, preocupados, temendo a terapia coletiva e a exposiçao de nossos problemas; e saímos corados, relaxados e cheios de energias e de esperanças em relaçao às nossas vidas e aos nossos momentos. Além disso, saímos com novos vínculos, porque fizemos bons amigo(a)s naquele lugar e naqueles dias. Uma experiência inesquecível!

quarta-feira, março 29, 2006

Brasil

Recebi 7 emails de brasileiro(a)s hoje: 6 falavam da situaçao atual do nosso país e da preocupaçao e desânimo das pessoas. Fiquei com a sensaçao de que bateu a tristeza e a desesperança em todos, no mesmo dia ou ao mesmo tempo. Me chamou a atençao esta coincidência. Acho que a queda de Palocci teve um efeito explosivo e devastador nas esperanças do povo.

terça-feira, março 28, 2006

Identidades e diferenças

Acabo de ler as conclusoes redigidas pela Sociedade Espanhola de Pedagogía, ao encerrar o II Congresso Iberoamericano de Pedagogia. No papel, ficou tudo super bonitinho. A teoria emociona e entusiasma. Realmente! Mas a prática é outra coisa bem diferente.

A publicaçao afirma que a diversidade nâo é sinônimo de desigualdade. Muitos livros afirmam isso. Muitíssimos, mas, na prática, sabemos que nao é bem assim, pois a educaçao está planejada, em geral, para a homogeneidade.

Uma parte que eu gostei de ler é que a educaçao e o ensino devem se basear em novos princípios, fomentando a superaçao dos estereótipos culturais. "Ante o patriótico que exclui, a educaçao deve acentuar princípios abertos e integradores". Parece bem evidente que, numa sociedade multicultural, a pessoa pode se identificar com vários grupos, sem o sentimento de traiçao a sua cultura de origem. A abertura às diferentes culturas deveria ser o mais natural, e nao o contrário.

Neste momento, lembrei de uma leitura que fiz no blog da Denise, há algum tempo, num post chamado Amo o Brasil, mas nao sinto banzo.
Denise afirma que sempre detestou o ufanismo que faz os brasileiros repetirem continuamente que "o brasileiro é o único povo que sabe se divertir", que "enfrenta tudo com bom humor", que "é o mais criativo"... pode até ser verdade, mas nem por isso somos superiores às outras culturas, e vice-versa. O ufanismo nao pode impedir que apreciemos outras culturas. O orgulho de nossa brasilidade é legítimo e impregna nossas açoes e sentimentos, mas nao pode impedir a apreciaçao de outras culturas e de outros povos. Os outros povos possuem características distintas, que sao tao interessantes como as dos brasileiros.

Acredito que a educaçao deve buscar pontos estratégicos que facilitem a construçao de identidades múltiplas e, ao mesmo tempo, de identidades localizadas. Isso é super importante. Além disso, a educaçao deve incentivar valores de aceitaçao, de respeito e de conhecimento mútuo, ampliando os horizontes e as referencias existentes na sociedade. Nao há dúvida que o sentido transnacional da cultura deve mudar a açao pedagógico-educativa.

Outro aspecto interessante desta publicaçao se refere ao tema que tenho insistido aqui: a igualdade de gênero. Segundo este documento, um dos grandes desafios para as sociedades plurais é a configuraçao de uma Pedagogia de Gênero que oriente a construçao de identidades de gênero - novas mulheres e novos homens - baseadas na igualdade e na nao-discriminaçao.

Enfim, é necessário ampliar o conceito de cidadanía em geral, para uma visao que vincule igualdade e diferença, reconhecendo, aceitando e respeitando as distintas identidades culturais.

Minha preocupaçao se fixa num ponto, como já citei em outro post: nada disso é possível ou viável sem a devida formaçao e a necessária reflexao dos professores. O fomento à convivência democrática, ao respeito, à cooperaçao, à tolerância, ao antirascismo, passa pela açao/intervençao destes profissionais. O papel dos professores é fundamental nas mudanças da sociedade. A qualidade da formaçao que eles recebem, e sua permanente atualizaçao, pode promover importantes mudanças educativas, qualitativa e quantitativamente.

Os responsáveis por políticas educativas e as instituiçoes de ensino devem ver/entender claramente que a diversidade, mais que um problema ou uma fonte de problemas, é a oportunidade para a construçao de identidades ricas e diversas. É a oportunidade constante de novas aprendizagens, pois todos têm o que ensinar e o que aprender.

segunda-feira, março 27, 2006

Pernambuco agradece!

Vi na página da CAPES que este ano haverá mais bolsas de mestrado e doutorado para Pernambuco. Serao ofertadas 143 bolsas a mais - 78 de mestrado e 65 de doutorado.

Esta é uma boa notícia, porque o Estado de Pernambuco já foi muito discriminado - neste sentido e em outros mais.

Brasil e China

Uma delegação de representantes do Ministério da Educação está na República Popular da China, para discutir os detalhes relativos à implementação de um programa de cooperação educativa entre os dois países.

Entre os temas a serem discutidos estão a realização de atividades de cooperação e de intercâmbio acadêmico entre as universidades dos dois países, envolvendo alunos, professores e pesquisadores de graduação e pós-graduação.

Outra questão que vai ser debatida é o ensino de línguas, visando a difusão do português na China e do chinês no Brasil, com o envio de professores para lecionar nas universidades de cada país.

domingo, março 26, 2006

Passeio com a tribo

Estas fotos sao de um passeio que fizemos por pueblos da província de Burgos - minha tribo espanhola e eu. Foi óóóótimo!!!








Ex-menina prodígio


Faleceu ontem, em Madrid, a cantora Rocío Dúrcal, ex-menina prodígio deste país - junto com Marisol e Jocelito. Ela começou trabalhando no cinema, fez teatro e acabou optando pela música. Tinha 61 anos e desde 2001 lutava contra um câncer. Famosa na Espanha e no México, principalmente, era uma mulher admirável e respeitada por todos. Morreu na maior discriçao, em sua casa, estando acompanhada por seus filhos e por seu marido. Morreu com a mesma elegância que viveu.