sábado, janeiro 13, 2007

A cidadania se manifestou


As ruas estavam impressionantemente cheias. Milhares e milhares de pessoas exigiam o fim da violência e do terrorismo. O sentimento comum era de repulsa pela loucura, irresponsabilidade e fanatismo do ETA, que rompeu a trégua com o governo sem avisar, e somou duas mortes mais em seu vasto currículo criminal. Atitude de covardes!
Os gritos de PAZ ressoaram forte, muito forte, da Castellana até a Porta de Alcalá. Foi uma manifestaçao bem veemente e que contou com pessoas de todas as idades, que gritavam em uníssono seu desejo de paz e do fim do terrorismo. A uniao de forças individuais foi emocionante. O resultado foi uma energia de arrepiar, que realmente contagiou a todos.
E onde estavam os políticos da direita? Provavelmente em casa, na frente da TV, arrependidos de nao terem participado de um movimento tao expressivo da cidadania. E onde estava a Igreja, esta instituiçao que se diz de todos e para todos, e que cobra tanto protagonismo no cenário social, cultural e político deste país? Provavelmente a Igreja contava o dízimo e preparava sua retórica sofista, que já nao convence ninguém.
Está claro que ETA nao tem mais sentido há muitíssimos anos - desde o momento em que se afastou de objetivos políticos mais aceitáveis para começar a matar por matar - incluindo crianças em seus alvos. Isso nunca foi política e os fins nao justificam os meios.
Hoje, ETA é composto por jovens que parecem nao ter ultrapassado a fase do egocentrismo infantil e que insistem em acreditar numa fábula pessoal de heroismo, revoluçao e independencia, com direito a detonar quem atravesse seus caminhos - como a birra das crianças. Podipará! O mundo necessita de visoes/açoes convergentes, cooperativas e solidárias, e nao de movimentos bélico-separatistas desta natureza.

Motivo

Recebi do Paulo Lopes, um amigo querido, e resolvi postar aqui. É bonito! Recordo outra época da minha existência... e me vem, novamente, um sentimento genuino de saudade boa.

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei.
Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto.
E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

(Cecília Meireles)