Desde que estou aqui, escuto as pessoas dizerem que os meses de julho e agosto sao os melhores para percorrer o Caminho de Santiago - isso porque sao meses de ferias e porque é verao nesta banda da terra. Mas o que eu tenho visto na TV nos últimos dias contraria esta teoria. O calor esta muito intenso e alguns peregrinos passam mal, além de que muitas pousadas e albergues lotam nas primeiras horas da tarde. Acaba sendo um desconforto para todos.
Tenho muito(a)s amigo(a)s que me perguntam sobre o tema. A verdade é que a indefiniçao das estaçoes do ano impedem/dificultam um prognóstico sobre a época mais apropriada. Neguinho tem que arriscar e aceitar o que vier. Mas, depois das leituras que fiz sobre o Caminho, penso que os melhores meses sao os de maio-junho (primavera), e setembro-outubro (outono).
As pessoas que fizeram o Caminho de Santiago - as que eu conheço, naturalmente - falam muito em transformaçao. Adoro encontrá-las depois da caminhada. Elas chegam cheias de cor, de coragem e de vitalidade. O contato profundo com o eu, com a natureza e com as distintas etnias e costumes parece que provoca realmente uma transformaçao.
Eu ainda nao pratiquei este exercício mental/emocional. Nao, a pé. Eu fui de carro, abanando e buzinando para todos os peregrinos que encontrava. Mas desejo realizar esta caminhada, logo. Loguinho!
Estes tres se chamam Jaime - filho, pai e avô. Eles fizeram o Caminho juntos. A foto é da chegada em Santiago de Compostela.
Os peregrinos que conheço normalmente falam das surpresas do Caminho - as estradinhas, os riachos, as montanhas, os pássaros, as flores, as estátuas, os pueblitos que vao ficando para trás....os olhos e o coraçao devem estar bem abertos e focados para ver/sentir tais surpresas.
Uma amiga do Recife me contava que percorreu o Caminho por três vezes. Na primeira vez, ela estava preocupada em nao se perder... e só se perdia! Ela queria ver as sinalizaçoes, e nao via nada. Foi uma viagem difícil, porque ela nao estava relaxada. Na segunda vez, foi bem melhor, mas houve um contratempo corporal. Ela torceu o pé - o que demonstra que ainda nao estava suficientemente relaxada. Na terceira, foi o auge da alegria. Ela viu tudo e curtiu tudo o que tinha pela frente. Segundo suas palavras, ela conseguiu apreciar a cara boa dos animais, as flores, o ar, os sinais...Seu processo foi longo e ela necessitou percorrer mais de 2400 Km para sentir a alegria e a leveza buscada. Minha amiga diz que quer continuar a experiência. Dou todo o apoio! Acho que é uma experiência boa em todos os sentidos, para qualquer pessoa.
Tenho outras amigas, Lupi e Lidia, espanholas, que fazem uma média de 100 km do Caminho cada ano. Na primeira vez, elas saíram de Roncesvalle e caminharam uma semana. Passados estes dias, voltaram para casa. No ano seguinte, partiram de onde tinham parado no ano anterior, caminharam outra semana, e voltaram para casa. E assim, sucessivamente. Elas reservam uma semana de cada férias para fazer uma parte do trajeto. Possivelmente, em 8 anos, ou pouco mais, elas terao completado o percurso.
O meu irmao, Jayme, fez uns 80, 90 km no ano passado. Acho que ele voltará este ano para fazer um pouco mais. Lembro que eu me oferecia para levar a casa para ele - queria que ele alugasse um trailer. Eu afirmava que estaria em cada parada de descanso, com sua casa. Mas ele nao aceitou a proposta. Insisti dizendo que estaria levando a cama, roupa limpa, o banheiro limpo, comida preparada. Nao houve maneira de convencê-lo. Ele queria se misturar com o povo do mundo. E fez bem!
Enfim, cada um tem a sua maneira de curtir o Caminho. Tem gente que vai sozinho, tem gente que vai em grupo, tem gente que vai a pé, tem gente que vai de bicicleta, tem gente que vai a cavalo...o caminho é livre! O mais importante é o contato com o eu, com a natureza, com o processo gradual de abertura do olhos e do coraçao... isso é mais importante que a chegada!