Hoje, o jornal El País, comenta que o governo peruano quer recuperar as peças da coleçao do patrimônio inca que está na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, desde o início do século passado. Centenas de peças de Machu Pichu - a famosa cidade dos incas - foram emprestadas aos Estados Unidos para serem estudadas, com a condiçao de que ao final de um ano e meio seriam devolvidas. Já passaram 90 anos desde este acordo e o Peru ainda parece longe que recuperar seu tesouro e parte de sua milenária história. O único que este país conseguiu até agora foi um oferecimento benevolente do governo estadunidense de ser o supervisor das peças da coleçao, que, agora, estao expostas nesta universidade - como se percebe na foto ao lado. Em nenhum momento se reconhece os direitos do Peru sobre suas jóias arqueológicas. Peru calcula que sao 2.000 peças enquanto Yale afirma que só possui 250.
Parece que estamos diante de outro exercicio de poder dos Estados Unidos - para nao dizer roubo descarado - como aconteceu com as obras de arte do Iraque...e de tantas outras culturas!!! Os estadunidenses continuam com sua política invasora e de subtraçao da propriedade alheia, em nome do bem comum. Obviamente, eles se consideram o bem comum da humanidade e, para isso, outorgam-se o direito de invadir histórias, roubar culturas e determinar como fazer uso dos tesouros subtraídos aos donos originais.
A invasao dos países - conforme seus interesses - e a destruiçao de vidas ainda nao encontraram a oposiçao firme e forte dos demais países do mundo, que parecem assistir perplexos ao saqueio vergonhoso. Por que o mundo permite? Por que nao se juntam efetivamente contra esta postura ditatorial e psicopata? Bastaria uma uniao firme dos países. Nada mais. Nao entendo realmente porque isso nao acontece.
Depois que assisti ao filme Hotel Ruanda, e procurei ler mais coisas sobre a briga entre os hutus e os tutsis, entendi porque os Estados Unidos nao quiseram intervir naquela matança - e em outras que presenciamos diariamente nos países da África. Porque sao países pobres e que nao têm o petróleo do Iraque e suas obras de arte. Os países africanos já foram sugados por Inglaterra, França, Espanha e Portugal, principalmente. Deste modo, os justiceiros do mundo nao têm interesse nestes países. Sua política invasiva esta relacionada com a certeza do lucro.
Em relaçao à África, eles a invadem de outra forma. Nao levam seus tesouros arqueológicos ou suas obras de arte. Levam o maior dos tesouros: a vida humana. A África é usada especialmente como laboratório para suas experiências, como também retrata muito bem o filme O Jardineiro Fiel, que mostra a vinculaçao dos países europeus com os Estados Unidos no que se refere à indústria farmacêutica, onde rolam bilhoes e bilhoes de dólares. Este filme mostra muito claramente que as vidas humanas na África nao têm valor e que as experiências laboratoriais feitas ali proporcionam um lucro estratosférico às grandes indústrias farmacêuticas. Estas fazem as experiências nos africanos, aperfeiçoam os medicamentos com as vidas africanas e vendem para o mundo todo, menos para a África, que nao tem dinheiro para pagar - como acontece com os remédios contra a SIDA. Um paradoxo? É a realidade.
Mas o tema que eu quero abordar agora é o Peru, embora o tema da África também mexa muito comigo.
Em 1553, o Peru foi invadido pelo espanhol Pizarro, que, em nome da integridade dos espanhóis e da Coroa Espanhola, destruiu a importante civilizaçao encontrada: a civilizaçao inca. Era uma civilizaçao com organizaçao social e econômica muito evoluída para a época, possuindo um desenvolvimento surpreendente em aspectos como sociedade, educaçao, família, escrita, literatura, escultura, música, arquitetura, religiao, matemática e astrologia. E foi tudo para o espaço! Da mesma forma como aconteceu com a civilizaçao azteca, no México, que os espanhóis também destruíram, alegando os mesmos motivos. Que bárbarie! Neste sentido, os espanhóis fizeram igual aos vândalos - povo nórdico que invadiu a Península Ibérica no século IV e que foi destruindo tudo o que encontrava pela frente.
Na época da invasao à civilizaçao inca, os espanhóis só encontravam valor nas jóias e nas terras. Eles fizeram o que fizeram contra a civilizaçao inca, porque temiam a organizaçao e a evoluçao alcançada por aquele povo.
Portanto, o Peru foi saqueado e roubado pelos espanhóis naquela época e, agora, depois de centenas de anos buscando a recuperaçao da sociedade, encontra a prepotência estadunidense que tenta retirar seus direitos sobre este momento histórico. Roubaram suas riquezas e tentam roubar sua história. Lamentável! Alegam os estadunidenses que os peruanos nao têm condiçoes de cuidar de sua arte e reduzem a 250 um tesouro de mais de 2000 peças. Roubo indecente que, provavelmente, vamos assistir calados.
Nesta mesma linha, os estadunidenses tentam subtrair uma das maiores riquezas do Brasil: a Amazônia. Eles vao se instalando ali e levando tudo o que podem, além de gritar ao mundo que nao somos sábios e inteligentes para guardar este patrimônio. Nao temos condiçoes de cuidar desta flora tao rica. Eles, sim.
Resta saber se vamos permitir este saque ao nosso patrimônio natural.
sábado, fevereiro 04, 2006
sexta-feira, fevereiro 03, 2006
Meu superego
Este é o Marcos, meu amigo uruguaio. Ele chegou na Espanha três meses antes de mim - com sua esposa, Cecilia - para fazer o mesmo curso de doutorado que eu. Ele é físico, mas optou pela área pedagógica, dirigindo uma escola em Montevidéu. Como ele é o rei dos CDFs, em pouco tempo estava doutor. E um doutor brihante! Quando eu estava na metade da minha investigaçao, ele já tinha terminado a sua. O guri é daqueles tipos que nunca chega atrasado na aula, copia tudo bem bonitinho, fica até o final, está sempre atento ao professor, nunca atrasa seus trabalhos e vive suas horas pensando em como realizar hiper bem seus compromissos. Na teoria de Lowen, um rígido.
Como aluno é aluno - em todos os lugares do mundo -, eu atirava papéizinhos nele, na sala de aula, mas ele nao se distraía. Ele estava acima destas perturbaçoes terrenas. O máximo que ele fazia era lançar um olhar de censura na minha direçao.
Digo sempre que ele é meu superego, porque cuida de que eu cumpra minhas coisas e meus compromissos da mesma forma que ele o faria. Passei 4 anos ouvindo ele dizer: "Thelma, a tese...", cada vez que eu planejava um passeio ou uma viagem.
Na verdade, segundo a descriçao que fiz nos parágrafos acima, ele pode parecer um chato. Mas nao é! Ele é um encanto! Gosto muito dele. Nossa relaçao é de irmaos: estamos sempre nos cutucando e rindo.
Acontece que este querido amigo tem um problema sério, que me dá muita pena: aqui, pouca gente sabe que existe o Peñarol, seu time de futebol no Uruguai. Ele nao agüenta isso. É demais para ele! Eu, de maldade, digo que as pessoas nem sabem que existe o Uruguai, quanto mais o Peñarol. Deste modo, para compensar sua frustraçao, está sempre enfatizando, ironicamente, o tamanho e a importância do Brasil, no cenário mundial. Quando eu falo alguma coisa do Brasil, ele repete: "o Brasil é o país mais grande do mundo!" Quando me refiro a alguma praia, ele diz: "o Brasil tem as praias maiores e mais bonitas do mundo!" O mesmo acontece quando me refiro ao carnaval, ao futebol, à músicas, ao cinema... Sua ironia é inesgotável em relaçao ao Brasil, mas eu a aceito...e entendo! Como nao entender? É tudo tao claro...
Marquito, nao perde as esperanças, tá? Um dia, o Peñarol vai ser conhecido no mundo todo. Nada como um dia depois do outro. Fica frio e tem paciência. Um grande abraço!
Sofia Loren
Todos têm razao
Tenho uma cunhada, Grace, que, quando ouve alguma história sobre brigas ou conflitos, diz: "todos têm razao". Ela repete isso há anos, afirmando que se nos colocamos integralmente de um lado da história, nossos sentimentos estarao influenciados por esta visao unilateral; se nos colocamos integralmente do outro lado da história, nossos sentimentos estarao infuenciados pela versao oposta do problema. E que, no final, todos têm razao.
Foi ela quem encontrou este texto que transcrevo:
Dois homens discutiam sobre a virtude que favorece atingir à iluminaçao. Um deles ressaltava a generosidade, argumentando que tinha aprendido com o mestre. O outro defendia a humildade. Uma terceira pessoa só escutava. Diante do conflito, resolveram perguntar ao mestre. O primeiro indagou: "Mestre, a generosidade nao é essencial para a iluminaçao?" O mestre respondeu: "Você tem razao." O outro retrucou: "Mas mestre, nao é a humildade?" "Você tem razao", respondeu o mestre. O homem que só escutava nao agüentou e disse: "Agora fiquei confuso." O mestre olha para ele e diz: "Você também tem razao."
(autor desconhecido)
Foi ela quem encontrou este texto que transcrevo:
Dois homens discutiam sobre a virtude que favorece atingir à iluminaçao. Um deles ressaltava a generosidade, argumentando que tinha aprendido com o mestre. O outro defendia a humildade. Uma terceira pessoa só escutava. Diante do conflito, resolveram perguntar ao mestre. O primeiro indagou: "Mestre, a generosidade nao é essencial para a iluminaçao?" O mestre respondeu: "Você tem razao." O outro retrucou: "Mas mestre, nao é a humildade?" "Você tem razao", respondeu o mestre. O homem que só escutava nao agüentou e disse: "Agora fiquei confuso." O mestre olha para ele e diz: "Você também tem razao."
(autor desconhecido)
quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Dois anjos
Quando vim morar na Espanha, nao tinha bolsa de estudos e as mensalidades da universidade onde estudava eram muito caras. Entao, fui fazer o que a maioria dos sudacas - apelido pejorativo com que os espanhóis chamam os originários da América do Sul - fazem, que é cuidar de pessoas mais velhas ou de crianças.
Desta maneira, conheci Itziar e Begoña, duas irmas de mais de 80 anos. Com elas, convivi 5 anos. Uma experiência única!
Quando as conheci, elas ainda moravam em seu apartamento, no centro de Bilbao. Era um apartamento enorme, onde se percebia a situaçao privilegiada das duas senhoras.
Itziar, a mais jovem, era a dona da casa. Aí, viveu com seu marido - já falecido - e seus dois filhos. Bego, 4 anos mais velha que Itziar, ficou viúva cedo e foi morar com sua irma, seu cunhado e seus sobrinhos - quando todos ainda viviam juntos.
A mais jovem das irmas, com menos de 70 anos, começou a apresentar quadros de desorientaçao e de esquecimentos. Diagnóstico: Alzheimer. Nesta época, elas já viviam sós. Mais tarde, os filhos - que já tinham casado e que viviam em suas próprias casas - sentiram a necessidade de contratar empregadas para cuidar mais especialmente das duas. Éramos 4 empregadas: uma, para a manha; outra, para a tarde; outra, para a noite; e, outra, para os finais de semana. Eu era a dos finais de semana. Como tive aulas nos dois primeiros anos do curso, ficava com a semana livre para assistir às aulas e para estudar, e cuidava das velhinhas nos finais de semana. Inicialmente, foi duro para mim e duro para elas, por distintos motivos. Para mim, foi difícil porque nunca tinha feito um trabalho assim, porque nao tinha finais de semana livres - quando todos os meus colegas de curso passeavam de um lugar para outro na Espanha de Cervantes - e porque eu tinha uma enorme responsabilidade com o estado das duas. Morria de medo que acontecesse alguma coisa grave quando eu estivesse com elas. Além de algumas quedas, que me deixavam horrorizada, nunca houve nada grave.
Para elas, foi difícil porque elas se sentiam inseguras com uma pessoa desconhecida, estrangeira, que nao falava bem o idioma. Para quem sofre este tipo de enfermidade, com importantes desorientaçoes, minhas características pessoais nao eram muito tranquilizadoras. Eu sentia a insegurança delas nos primeiros dias, e tentava tranquilizá-las.
Lembro que no primeiro dia que fui trabalhar, quando estava sendo apresentada às duas, Bego me olhou dos pés à cabeça, bem devagarinho. Quando seus olhos alcançaram a minha cabeça, e notaram meus cabelos crespos, soltos e desalinhados, sem nenhum laquê, ela afirmou: "Esqueceste de pentear os cabelos! Se queres, pega meu pente que está no banheiro". Ao mesmo tempo em que ela enviava uma mensagem de reprovaçao sobre a minha aparência, oferecia gentilmente sua ajuda. Inicialmente, ela era autoritária e estava sempre reclamando de algo, com um estilo de marquesa inconfundível que conserva até hoje, mas, ao sorrir, era impressionantemente simpática e bonita! E ela continua com este sorriso!
Itziar era reservada, calada e encantadora. Sempre foi uma mulher simples e dedicada aos outros. Em sua casa, cuidou da sogra, dos cunhados, do marido, das irmas e de todos que necessitaram dela. Era uma mulher religiosa e que sentia paz rezando por ela e pela humanidade. Ela gostava de nao chamar a atençao dos demais, e dizia que era feliz porque nao era bonita e nem feia, nao era alta e nem baixa, nao era morena e nem loira...
Desta maneira, ficamos um ano nos acompanhando em finais de semana. Em geral, foi um período tranquilo. A empregada que ficava à noite, nos dias de semana, dizia que Bego cantava e gritava toda a noite. A verdade é que ela nunca gritou quando eu estava com ela. Talvez porque eu a pusesse na cama como se fosse uma criança. Eu a beijava, abraçava, ficava um bom tempo ao seu lado, até ela começar a relaxar e a dormir. Quando eu ia para o outro quarto, onde dormia com Itziar, dizia a ela que podia me chamar a qualquer hora e que eu deixaria a luz do corredor acendida para que ela nao tivesse medo. Com isso, ela dormia a noite toda, invariavelmente.
Itziar sempre dormia bem. Na verdade, ela preferia ficar na cama que levantada. Na hora de levantá-la, ela resistia.
Minhas atividades eram: preparar as refeiçoes, separar os remédios e dar a elas nos horários estabelecidos, dar banho, vestir e desvestir as duas, arrumar as camas, colocar música, ler, rezar com elas - tive que aprender, imediatamente, o Pai Nosso e a Ave Maria em espanhol.
Sentia nitidamente o afeto crescente que me unia às duas. Talvez eu projetasse nelas o amor que sentia por minha mae e por minhas tias - todas falecidas. Este parentesco novo nao era de sangue, e sim de sentimento - como muitos que acontecem na vida. Se uma delas tinha febre, ou diarréia, ou dor de cabeça...eu ficava super mal, aflita, torcendo para que melhorasse logo.
No final deste primeiro ano, fui ao Brasil. Nao podia tirar férias por quase dois meses e resolvi pedir demissao. Foi difícil para mim dizer que ia deixá-las. No momento em que pedi a demissao, soube que os filhos tinham decidido levá-las a um centro geriátrico. Bateu uma tristeza enorme em mim. Nao podia entender que elas saíssem da casa onde viveram mais de 40 anos e fossem para um centro geriátrico. Questionei muito esta mudança, internamente. Procurei conhecer e entender melhor esta atitude massiva dos espanhóis de colocar os pais nos centros geriátricos, porque, aqui, é o que ocorre com a grande maioria dos casos. Pensava: este é um fenômeno cultural? Se os filhos que trabalham e que têm outros afazeres internam os pais em centros geriátricos, isso caracteriza um traço cultural? Sei lá...todos me diziam: "é o normal", "vai ser melhor para elas". E eu me perguntava onde estava a normalidade e por que seria melhor para elas? Eu só conseguia pensar nas referências brasileiras que eu tinha, onde, normalmente, cuidamos de nossos entes queridos até o final. Ficou um conflito dentro de mim, porque eu conhecia os filhos de Itziar e sabia/sentia que eram boas pessoas, cuja intençao era dar o melhor àquelas senhoras. Eles realmente acreditavam que era isso que devia ser feito. O filho, mais racional, tomou as medidas necessárias para fazer o translado delas; a filha, mais sensível ao problema da mae e da tia, sofreu muito com esta separaçao. Ele estava convencido de que se nao podiam ocupar-se integralmente da mae e da tia, elas estariam melhor cuidadas com um médico de plantao e com uma estrutura de enfermeiras e psicólogas preparadas para esta enfermidade.
Fui para o Brasil com o coraçao partido. Pensava nelas diariamente. E rezava para que elas estivessem tranquilas e serenas. Já as conhecia bem e imaginava quais seriam suas reaçoes. E, efetivamente, aconteceu o que eu previa: se elas já sofriam de desorientaçao, tirá-las do seu lar foi a gota d`água. Elas pioraram muito. Nao se acostumavam com aquele lugar.
Na primeira semana depois de meu regresso do Brasil, quando as aulas já tinham recomeçado, a filha de Itziar - que é uma pessoa que eu gosto muito e que hoje é uma boa amiga minha - me chamou ao telefone. Disse que sua mae tinha caído, que havia rompido os quadris e que seria operada. Perguntou se eu podia acompanhá-la no hospital. Corri para lá. Ficamos 15 dias no hospital. A volta para o centro geriátrico foi outro período complicado. Voltei com ela para este lugar e, lá, reencontrei Bego. A partir deste dia, fiquei acompanhando as duas no tal centro. Eu ia pela manhâ, limpava os olhos, as bocas, as orelhas, observava suas temperaturas, passava cremes, conversava com elas, lia jornais, colocava música e dava o almoço para as duas - que já vinha pronto, numa bandeja. Depois do almoço, colocava as duas para dormir, e ia para casa. Assim permanecemos durante 4 anos. Vi muita coisa acontecer neste lugar. Ali, por mais que houvesse gente preparada, nao era o lar delas. E eu me perguntava continuamente onde estava o preparo daquela gente? O tratamento dado aos velhinhos carecia de carinho, de afetuosidade e, muitas vezes, de respeito. Faltava sentimento e coraçao nas cuidadoras oficiais, que faziam suas tarefas automaticamente. É óbvio que nao se pode generalizar e que havia algumas boas exceçoes. Mas, na maioria das vezes, os velhinhos eram tratados como se fossem um móvel a mais da residência - isso, sim, era de primeira. As instalaçoes deste centro geriátrico sao modernísimas, mas tudo é muito frio, carecendo de calor humano.
Hoje, percebo que nao existe o afeto que esta enfermidade exige, e sim o automatismo e a rapidez. As cuidadoras têm que fazer tudo correndo, porque estao em número reduzido para a quantidade de gente. Como todas as empresas, as residências também economizam dinheiro onde deveriam ser mais abertos: na quantidade e na qualificaçao do pessoal. Meu sentimento é o de que, além da prisao cerebral causada pela enfermidade, os pacientes se tornam prisioneiros do centro geriátrico. Eles perdem a autonomia e a vontade própria. Já nao podem deitar na cama quando querem, nem levantar quando o desejam. Passam horas diante da TV, comem coisas que nao gostam e sao obrigados a ir para a cama às 20 h. Há horário para tudo. Em certos momentos, vi pessoas amarradas por nao obedecerem as regras estabelecidas. E os familiares acreditam que seus enfermos estao muito bem cuidados. Entendi que a eficiência do centro é maior nos horários de visitas, onde tudo é sorriso e simpatia. É um grande teatro, orquestrado pelos administradores. Quando eu estava aí, como eu era estranha ao centro, denunciava o tratamento dado aos pacientes, reclamava, cobrava...a direçao fazia que se importava, as atendentes ficavam com raiva de mim, e nada mudava.
No meu regresso do Brasil, neste primeiro ano, consegui uma bolsa de estudos da Cátedra Unesco. Podia ter deixado de trabalhar com elas, se a questao fosse só financeira, pois a bolsa me permitia viver sem trabalhar, mas o afeto falou mais forte. Recebi a bolsa durante três anos e nunca deixei de estar com elas. Recentemente, para terminar a tese, pedi para ser substituída. Deixei de ver e de estar com as velhinhas diariamente, embora continue visitando as duas. Hoje mesmo estive com elas. É uma alegria vê-las, mesmo que eu saiba que elas nao têm nem idéia de quem eu seja. Mas eu sei quem elas sao!
Neste momento, Itziar já nao fala, nao anda, quase nao abre os olhos e tem os braços e as maos na posiçao fetal. Mas escuta. Sabe que tem alguém ao seu lado. Pode até tentar esboçar um sorriso ou uma fala. Ela usa sonda e, depois de algumas pneumonias e hospitalizaçoes, já nao se alimenta pela boca. Com todo este quadro, ela conserva uma boa cor e ainda se percebe uma certa energia nela. Com os anos de convivência, aprendi a reconhecer suas expressoes: de dor, de cansaço, de irritaçao, de tranquilidade, de sono profundo, de sono leve e de "me deixem em paz"...
Bego também nao anda e tem a cabeça completamente confusa. Nao reconhece mais as pessoas e nao consegue articular uma conversaçao longa, na maioria das vezes - mas reza e canta! Ela adora cantar! Da mesma forma que acontece com Itziar, reconheço bem seus olhares e nao canso de rir com sua maneira de ser e de pensar. Mesmo confusa, ela continua uma marquesa e uma figura genial.
A verdade é que esta é uma experiência que sempre mexeu muito com as minhas entranhas. É uma história que nao terminou, pois seguimos com os coraçoes enlaçados.
Nas primeiras páginas de minha tese, fiz um agradecimento a elas. Escrevi que o verdadeiro doutorado realizado neste país foi com elas. Um doutorado de vida! Aprendi muitíssimas coisas e, hoje, vejo a vida e a morte de outra maneira. Entendi o que significa envelhecer e ir perdendo, lentamente, todas as capacidades, num processo de aceitaçao do irreversível, ou do inevitável. Durante muito tempo, eu me esforcei para ser o prolongamento destas capacidades que elas iam perdendo: eu conversava sobre as horas, os dias da semana, os meses, explicava tudo o que interessava a elas, lia devagar, descrevia as situaçoes, o dia, o tempo, o vento, o calor, a chuva, os ruídos, os cheiros...
Nesta residência, além das duas irmas, conheci e acompanhei muitas outras pessoas. Perdi a conta de quantos morreram nestes anos em que estivemos neste lugar. Ri e chorei muito com eles todos. Vivi momentos de alegria intensa e momentos de grande dramaticidade.
Uma curiosidade que sempre me chamou à atençao: a quase totalidade dos pacientes que sofrem de Alzheimer pergunta pela mae. O pai, os maridos, as esposas e, inclusive, os filhos, sao personagens secundários na vida destes pacientes. A grande protagonista da vida de todos nós é a mae! Se o vínculo mais forte é o materno, visto que nunca o esquecemos, nem quando nossa memória já apagou quase tudo, atrevo-me a dizer que o cordao umbilical continua presente no imaginário de todos.
Esta é a história de um encontro incomum entre duas espanholas e uma brasileira. Independente das diferenças culturais, é um encontro de três coraçoes.
Desta maneira, conheci Itziar e Begoña, duas irmas de mais de 80 anos. Com elas, convivi 5 anos. Uma experiência única!
Quando as conheci, elas ainda moravam em seu apartamento, no centro de Bilbao. Era um apartamento enorme, onde se percebia a situaçao privilegiada das duas senhoras.
Itziar, a mais jovem, era a dona da casa. Aí, viveu com seu marido - já falecido - e seus dois filhos. Bego, 4 anos mais velha que Itziar, ficou viúva cedo e foi morar com sua irma, seu cunhado e seus sobrinhos - quando todos ainda viviam juntos.
A mais jovem das irmas, com menos de 70 anos, começou a apresentar quadros de desorientaçao e de esquecimentos. Diagnóstico: Alzheimer. Nesta época, elas já viviam sós. Mais tarde, os filhos - que já tinham casado e que viviam em suas próprias casas - sentiram a necessidade de contratar empregadas para cuidar mais especialmente das duas. Éramos 4 empregadas: uma, para a manha; outra, para a tarde; outra, para a noite; e, outra, para os finais de semana. Eu era a dos finais de semana. Como tive aulas nos dois primeiros anos do curso, ficava com a semana livre para assistir às aulas e para estudar, e cuidava das velhinhas nos finais de semana. Inicialmente, foi duro para mim e duro para elas, por distintos motivos. Para mim, foi difícil porque nunca tinha feito um trabalho assim, porque nao tinha finais de semana livres - quando todos os meus colegas de curso passeavam de um lugar para outro na Espanha de Cervantes - e porque eu tinha uma enorme responsabilidade com o estado das duas. Morria de medo que acontecesse alguma coisa grave quando eu estivesse com elas. Além de algumas quedas, que me deixavam horrorizada, nunca houve nada grave.
Para elas, foi difícil porque elas se sentiam inseguras com uma pessoa desconhecida, estrangeira, que nao falava bem o idioma. Para quem sofre este tipo de enfermidade, com importantes desorientaçoes, minhas características pessoais nao eram muito tranquilizadoras. Eu sentia a insegurança delas nos primeiros dias, e tentava tranquilizá-las.
Lembro que no primeiro dia que fui trabalhar, quando estava sendo apresentada às duas, Bego me olhou dos pés à cabeça, bem devagarinho. Quando seus olhos alcançaram a minha cabeça, e notaram meus cabelos crespos, soltos e desalinhados, sem nenhum laquê, ela afirmou: "Esqueceste de pentear os cabelos! Se queres, pega meu pente que está no banheiro". Ao mesmo tempo em que ela enviava uma mensagem de reprovaçao sobre a minha aparência, oferecia gentilmente sua ajuda. Inicialmente, ela era autoritária e estava sempre reclamando de algo, com um estilo de marquesa inconfundível que conserva até hoje, mas, ao sorrir, era impressionantemente simpática e bonita! E ela continua com este sorriso!
Itziar era reservada, calada e encantadora. Sempre foi uma mulher simples e dedicada aos outros. Em sua casa, cuidou da sogra, dos cunhados, do marido, das irmas e de todos que necessitaram dela. Era uma mulher religiosa e que sentia paz rezando por ela e pela humanidade. Ela gostava de nao chamar a atençao dos demais, e dizia que era feliz porque nao era bonita e nem feia, nao era alta e nem baixa, nao era morena e nem loira...
Desta maneira, ficamos um ano nos acompanhando em finais de semana. Em geral, foi um período tranquilo. A empregada que ficava à noite, nos dias de semana, dizia que Bego cantava e gritava toda a noite. A verdade é que ela nunca gritou quando eu estava com ela. Talvez porque eu a pusesse na cama como se fosse uma criança. Eu a beijava, abraçava, ficava um bom tempo ao seu lado, até ela começar a relaxar e a dormir. Quando eu ia para o outro quarto, onde dormia com Itziar, dizia a ela que podia me chamar a qualquer hora e que eu deixaria a luz do corredor acendida para que ela nao tivesse medo. Com isso, ela dormia a noite toda, invariavelmente.
Itziar sempre dormia bem. Na verdade, ela preferia ficar na cama que levantada. Na hora de levantá-la, ela resistia.
Minhas atividades eram: preparar as refeiçoes, separar os remédios e dar a elas nos horários estabelecidos, dar banho, vestir e desvestir as duas, arrumar as camas, colocar música, ler, rezar com elas - tive que aprender, imediatamente, o Pai Nosso e a Ave Maria em espanhol.
Sentia nitidamente o afeto crescente que me unia às duas. Talvez eu projetasse nelas o amor que sentia por minha mae e por minhas tias - todas falecidas. Este parentesco novo nao era de sangue, e sim de sentimento - como muitos que acontecem na vida. Se uma delas tinha febre, ou diarréia, ou dor de cabeça...eu ficava super mal, aflita, torcendo para que melhorasse logo.
No final deste primeiro ano, fui ao Brasil. Nao podia tirar férias por quase dois meses e resolvi pedir demissao. Foi difícil para mim dizer que ia deixá-las. No momento em que pedi a demissao, soube que os filhos tinham decidido levá-las a um centro geriátrico. Bateu uma tristeza enorme em mim. Nao podia entender que elas saíssem da casa onde viveram mais de 40 anos e fossem para um centro geriátrico. Questionei muito esta mudança, internamente. Procurei conhecer e entender melhor esta atitude massiva dos espanhóis de colocar os pais nos centros geriátricos, porque, aqui, é o que ocorre com a grande maioria dos casos. Pensava: este é um fenômeno cultural? Se os filhos que trabalham e que têm outros afazeres internam os pais em centros geriátricos, isso caracteriza um traço cultural? Sei lá...todos me diziam: "é o normal", "vai ser melhor para elas". E eu me perguntava onde estava a normalidade e por que seria melhor para elas? Eu só conseguia pensar nas referências brasileiras que eu tinha, onde, normalmente, cuidamos de nossos entes queridos até o final. Ficou um conflito dentro de mim, porque eu conhecia os filhos de Itziar e sabia/sentia que eram boas pessoas, cuja intençao era dar o melhor àquelas senhoras. Eles realmente acreditavam que era isso que devia ser feito. O filho, mais racional, tomou as medidas necessárias para fazer o translado delas; a filha, mais sensível ao problema da mae e da tia, sofreu muito com esta separaçao. Ele estava convencido de que se nao podiam ocupar-se integralmente da mae e da tia, elas estariam melhor cuidadas com um médico de plantao e com uma estrutura de enfermeiras e psicólogas preparadas para esta enfermidade.
Fui para o Brasil com o coraçao partido. Pensava nelas diariamente. E rezava para que elas estivessem tranquilas e serenas. Já as conhecia bem e imaginava quais seriam suas reaçoes. E, efetivamente, aconteceu o que eu previa: se elas já sofriam de desorientaçao, tirá-las do seu lar foi a gota d`água. Elas pioraram muito. Nao se acostumavam com aquele lugar.
Na primeira semana depois de meu regresso do Brasil, quando as aulas já tinham recomeçado, a filha de Itziar - que é uma pessoa que eu gosto muito e que hoje é uma boa amiga minha - me chamou ao telefone. Disse que sua mae tinha caído, que havia rompido os quadris e que seria operada. Perguntou se eu podia acompanhá-la no hospital. Corri para lá. Ficamos 15 dias no hospital. A volta para o centro geriátrico foi outro período complicado. Voltei com ela para este lugar e, lá, reencontrei Bego. A partir deste dia, fiquei acompanhando as duas no tal centro. Eu ia pela manhâ, limpava os olhos, as bocas, as orelhas, observava suas temperaturas, passava cremes, conversava com elas, lia jornais, colocava música e dava o almoço para as duas - que já vinha pronto, numa bandeja. Depois do almoço, colocava as duas para dormir, e ia para casa. Assim permanecemos durante 4 anos. Vi muita coisa acontecer neste lugar. Ali, por mais que houvesse gente preparada, nao era o lar delas. E eu me perguntava continuamente onde estava o preparo daquela gente? O tratamento dado aos velhinhos carecia de carinho, de afetuosidade e, muitas vezes, de respeito. Faltava sentimento e coraçao nas cuidadoras oficiais, que faziam suas tarefas automaticamente. É óbvio que nao se pode generalizar e que havia algumas boas exceçoes. Mas, na maioria das vezes, os velhinhos eram tratados como se fossem um móvel a mais da residência - isso, sim, era de primeira. As instalaçoes deste centro geriátrico sao modernísimas, mas tudo é muito frio, carecendo de calor humano.
Hoje, percebo que nao existe o afeto que esta enfermidade exige, e sim o automatismo e a rapidez. As cuidadoras têm que fazer tudo correndo, porque estao em número reduzido para a quantidade de gente. Como todas as empresas, as residências também economizam dinheiro onde deveriam ser mais abertos: na quantidade e na qualificaçao do pessoal. Meu sentimento é o de que, além da prisao cerebral causada pela enfermidade, os pacientes se tornam prisioneiros do centro geriátrico. Eles perdem a autonomia e a vontade própria. Já nao podem deitar na cama quando querem, nem levantar quando o desejam. Passam horas diante da TV, comem coisas que nao gostam e sao obrigados a ir para a cama às 20 h. Há horário para tudo. Em certos momentos, vi pessoas amarradas por nao obedecerem as regras estabelecidas. E os familiares acreditam que seus enfermos estao muito bem cuidados. Entendi que a eficiência do centro é maior nos horários de visitas, onde tudo é sorriso e simpatia. É um grande teatro, orquestrado pelos administradores. Quando eu estava aí, como eu era estranha ao centro, denunciava o tratamento dado aos pacientes, reclamava, cobrava...a direçao fazia que se importava, as atendentes ficavam com raiva de mim, e nada mudava.
No meu regresso do Brasil, neste primeiro ano, consegui uma bolsa de estudos da Cátedra Unesco. Podia ter deixado de trabalhar com elas, se a questao fosse só financeira, pois a bolsa me permitia viver sem trabalhar, mas o afeto falou mais forte. Recebi a bolsa durante três anos e nunca deixei de estar com elas. Recentemente, para terminar a tese, pedi para ser substituída. Deixei de ver e de estar com as velhinhas diariamente, embora continue visitando as duas. Hoje mesmo estive com elas. É uma alegria vê-las, mesmo que eu saiba que elas nao têm nem idéia de quem eu seja. Mas eu sei quem elas sao!
Neste momento, Itziar já nao fala, nao anda, quase nao abre os olhos e tem os braços e as maos na posiçao fetal. Mas escuta. Sabe que tem alguém ao seu lado. Pode até tentar esboçar um sorriso ou uma fala. Ela usa sonda e, depois de algumas pneumonias e hospitalizaçoes, já nao se alimenta pela boca. Com todo este quadro, ela conserva uma boa cor e ainda se percebe uma certa energia nela. Com os anos de convivência, aprendi a reconhecer suas expressoes: de dor, de cansaço, de irritaçao, de tranquilidade, de sono profundo, de sono leve e de "me deixem em paz"...
Bego também nao anda e tem a cabeça completamente confusa. Nao reconhece mais as pessoas e nao consegue articular uma conversaçao longa, na maioria das vezes - mas reza e canta! Ela adora cantar! Da mesma forma que acontece com Itziar, reconheço bem seus olhares e nao canso de rir com sua maneira de ser e de pensar. Mesmo confusa, ela continua uma marquesa e uma figura genial.
A verdade é que esta é uma experiência que sempre mexeu muito com as minhas entranhas. É uma história que nao terminou, pois seguimos com os coraçoes enlaçados.
Nas primeiras páginas de minha tese, fiz um agradecimento a elas. Escrevi que o verdadeiro doutorado realizado neste país foi com elas. Um doutorado de vida! Aprendi muitíssimas coisas e, hoje, vejo a vida e a morte de outra maneira. Entendi o que significa envelhecer e ir perdendo, lentamente, todas as capacidades, num processo de aceitaçao do irreversível, ou do inevitável. Durante muito tempo, eu me esforcei para ser o prolongamento destas capacidades que elas iam perdendo: eu conversava sobre as horas, os dias da semana, os meses, explicava tudo o que interessava a elas, lia devagar, descrevia as situaçoes, o dia, o tempo, o vento, o calor, a chuva, os ruídos, os cheiros...
Nesta residência, além das duas irmas, conheci e acompanhei muitas outras pessoas. Perdi a conta de quantos morreram nestes anos em que estivemos neste lugar. Ri e chorei muito com eles todos. Vivi momentos de alegria intensa e momentos de grande dramaticidade.
Uma curiosidade que sempre me chamou à atençao: a quase totalidade dos pacientes que sofrem de Alzheimer pergunta pela mae. O pai, os maridos, as esposas e, inclusive, os filhos, sao personagens secundários na vida destes pacientes. A grande protagonista da vida de todos nós é a mae! Se o vínculo mais forte é o materno, visto que nunca o esquecemos, nem quando nossa memória já apagou quase tudo, atrevo-me a dizer que o cordao umbilical continua presente no imaginário de todos.
Esta é a história de um encontro incomum entre duas espanholas e uma brasileira. Independente das diferenças culturais, é um encontro de três coraçoes.
Liberdade
Li na página do Libertas (www.libertas.com.br), gostei e trouxe para cá.
Coragem
Um elefante obedece ao domador porque quando o animal era ainda criança, o domador amarra uma de suas patas num tronco muito forte. Por mais que tente, o elefantinho não consegue soltar-se. Aos poucos, vai se acostumando com a idéia de que o tronco é mais poderoso que ele. Quando adulto, basta o domador colocar uma corda no pé do elefante e amarrá-la num graveto que ele nem tenta libertar-se - porque se lembra que já tentou muitas vezes, e não conseguiu. Assim como os elefantes, nossos pés estão amarrados em algo frágil. Mas como, desde criança, nos acostumamos com o poder daquele tronco, não ousamos fazer nada. Sem saber que basta um simples gesto de coragem para descobrir toda nossa liberdade.
Coragem
Um elefante obedece ao domador porque quando o animal era ainda criança, o domador amarra uma de suas patas num tronco muito forte. Por mais que tente, o elefantinho não consegue soltar-se. Aos poucos, vai se acostumando com a idéia de que o tronco é mais poderoso que ele. Quando adulto, basta o domador colocar uma corda no pé do elefante e amarrá-la num graveto que ele nem tenta libertar-se - porque se lembra que já tentou muitas vezes, e não conseguiu. Assim como os elefantes, nossos pés estão amarrados em algo frágil. Mas como, desde criança, nos acostumamos com o poder daquele tronco, não ousamos fazer nada. Sem saber que basta um simples gesto de coragem para descobrir toda nossa liberdade.
quarta-feira, fevereiro 01, 2006
Adolescência teórica
Sabemos que a Internet se converteu num meio poderoso para a interaçao e integraçao dos distintos grupos e países. Sua relevância se estende tanto aos aspectos relacionados com o conhecimento como aos aspectos relacionados com a comunicaçao global.
Apesar do grande potencial que o contexto virtual oferece, o acelerado desenvolvimento tecnológico nao está sendo acompanhado de um desenvolvimento equivalente no que se refere à qualidade pedagógica e à eficácia dos processo educativos. Há muito o que fazer e estudar para melhorar o ensino e a aprendizagem neste contexto.
No atual momento, o que se percebe é que ainda nao existe um corpo de conhecimento suficientemente discutido e analisado em que se possa apoiar os processos de ensino e aprendizagem que ocorrem nesta modalidade, especialmente se nos referimos à educaçao superior. A reflexao teórica sobre este tema é relativamente nova. É o que Barberá y cols. (2001) chamam de adolescência teórica da educaçao no ambiente virtual. Possivelmente devido a esta adolescência teórica, as instituiçoes, muitas vezes, planejam seus cursos sem maiores preocupaçoes com a definiçao de uma perspectiva pedagógica a seguir. Neste sentido, é importante definir e configurar um corpo de conhecimento que explique e justifique, de maneira sistemática, os fundamentos da educaçao no ambiente on-line. É preciso conhecer muito bem as metodologias mais adequadas para cada situaçao específica, os recursos mais apropriados, as qualidades indispensáveis para que os professores possam desempenhar bem suas funçoes, as características dos alunos, os conteúdos mais pertinentes, as estratégias de ensino, as estratégias de aprendizagem...
Percebemos que, tanto no ambiente presencial como no ambiente virtual, muitas vezes, as aulas sao preparadas como se o grupo de alunos fosse homogêneo - embora a diversidade seja evidente. O que quero dizer é que nem sempre esta diversidade é considerada na hora de planejar as atividades ou situaçoes educativas. E nao há dúvidas de que os distintos alunos têm distintas formas de aprender - mas este detalhe nem sempre é considerado. Em muitas ocasioes, as instituiçoes estao mais preocupadas com o mercantilismo educativo e passam por cima das diferenças específicas - tanto em relaçao aos participantes do processo educativo como em relaçao aos contextos de aprendizagem.
Estudos realizados assinalam que, no contexto virtual, para a qualidade e a continuidade dos processos educativos, o planejamento deve ser muito mais detalhado, meticuloso e organizado que no contexto presencial. Este detalhamento cuidadoso é absolutamente necessário porque deve suprir a falta de contato físico com os professores e com os demais alunos. Isso significa que o tempo de preparaçao de atividades e de aplicaçao das mesmas nao é o mesmo que no contexto presencial - o que nem sempre está sendo levado em consideraçao pelas instituiçoes educativas.
Nao podemos esquecer que, anterior ao planejamento das atividades, é imprescindível conhecer as características principais do grupo ao qual os professores vao se dirigir - interesses pessoais e profissionais, conhecimentos e experiências prévias, estilos de aprendizaje e contextos de vida. Só depois de conhecer estes dados mínimos é que o planejamento das atividades pode ser elaborado - conforme as características encontradas. Levando em consideraçao estas características, será mais fácil vincular as atividades de novos conteúdos aos conteúdos que os alunos já conhecem e, assim, promover a aprendizagem significativa. Vincular os conhecimentos novos à realidade laboral, social e cultural dos alunos impulsionará a motivaçao dos mesmos. E, neste contexto, onde o índice de desistência é muito alto, a motivaçao é um dos principais aspectos que levam à continuidade dos processos de aprendizagem.
Depois de tudo o que escrevi, insisto num ponto sobre o contexto virtual: quando maior qualidade no ensino, mais significativa será a aprendizagem. Portanto, a qualificaçao do professorado é fundamental neste contexto. Sem a formaçao/capacitaçao necessária e constante, os professores nao poderao ajudar, colaborar e contribuir para o desenvolvimento cognitivo e afetivo dos alunos. Os professores têm um papel determinante neste contexto - ao contrário do que afirmam muitos autores, que confundem independência e autonomia com autoditatismo.
Infelizmente, nem todas as instituiçoes educativas estao preocupadas com o desenvolvimento cognitivo e afetivo de seus alunos - especialmente se fôr à distância. As que buscam principalmente o lucro e que tratam a educaçao como uma mercadoria, continuarao na linha da educaçao bancária (Paulo Freire), que se refere aos depósitos de conteúdo por parte dos professores – como um fluxo linear e unidirecional. As instituiçoes educativas que se preocupam com a qualidade dos processos de ensino e de aprendizagem, fomentarao a capacitaçao dos professores e a reflexao crítica conjunta - que resultará no desenvolvimento de uma forma autêntica de pensamento, de açao e de interaçao.
Deste modo, a qualidade e a eficácia dos processos educativos no contexto virtual está nas maos das instituiçoes e de suas políticas educativas. Depende delas investir no desenvolvimento pedagógico contínuo dos professores e nas mudanças estruturais que este ambiente requer - para alcançar níveis mais altos de desenvolvimento e de satisfaçao.
Apesar do grande potencial que o contexto virtual oferece, o acelerado desenvolvimento tecnológico nao está sendo acompanhado de um desenvolvimento equivalente no que se refere à qualidade pedagógica e à eficácia dos processo educativos. Há muito o que fazer e estudar para melhorar o ensino e a aprendizagem neste contexto.
No atual momento, o que se percebe é que ainda nao existe um corpo de conhecimento suficientemente discutido e analisado em que se possa apoiar os processos de ensino e aprendizagem que ocorrem nesta modalidade, especialmente se nos referimos à educaçao superior. A reflexao teórica sobre este tema é relativamente nova. É o que Barberá y cols. (2001) chamam de adolescência teórica da educaçao no ambiente virtual. Possivelmente devido a esta adolescência teórica, as instituiçoes, muitas vezes, planejam seus cursos sem maiores preocupaçoes com a definiçao de uma perspectiva pedagógica a seguir. Neste sentido, é importante definir e configurar um corpo de conhecimento que explique e justifique, de maneira sistemática, os fundamentos da educaçao no ambiente on-line. É preciso conhecer muito bem as metodologias mais adequadas para cada situaçao específica, os recursos mais apropriados, as qualidades indispensáveis para que os professores possam desempenhar bem suas funçoes, as características dos alunos, os conteúdos mais pertinentes, as estratégias de ensino, as estratégias de aprendizagem...
Percebemos que, tanto no ambiente presencial como no ambiente virtual, muitas vezes, as aulas sao preparadas como se o grupo de alunos fosse homogêneo - embora a diversidade seja evidente. O que quero dizer é que nem sempre esta diversidade é considerada na hora de planejar as atividades ou situaçoes educativas. E nao há dúvidas de que os distintos alunos têm distintas formas de aprender - mas este detalhe nem sempre é considerado. Em muitas ocasioes, as instituiçoes estao mais preocupadas com o mercantilismo educativo e passam por cima das diferenças específicas - tanto em relaçao aos participantes do processo educativo como em relaçao aos contextos de aprendizagem.
Estudos realizados assinalam que, no contexto virtual, para a qualidade e a continuidade dos processos educativos, o planejamento deve ser muito mais detalhado, meticuloso e organizado que no contexto presencial. Este detalhamento cuidadoso é absolutamente necessário porque deve suprir a falta de contato físico com os professores e com os demais alunos. Isso significa que o tempo de preparaçao de atividades e de aplicaçao das mesmas nao é o mesmo que no contexto presencial - o que nem sempre está sendo levado em consideraçao pelas instituiçoes educativas.
Nao podemos esquecer que, anterior ao planejamento das atividades, é imprescindível conhecer as características principais do grupo ao qual os professores vao se dirigir - interesses pessoais e profissionais, conhecimentos e experiências prévias, estilos de aprendizaje e contextos de vida. Só depois de conhecer estes dados mínimos é que o planejamento das atividades pode ser elaborado - conforme as características encontradas. Levando em consideraçao estas características, será mais fácil vincular as atividades de novos conteúdos aos conteúdos que os alunos já conhecem e, assim, promover a aprendizagem significativa. Vincular os conhecimentos novos à realidade laboral, social e cultural dos alunos impulsionará a motivaçao dos mesmos. E, neste contexto, onde o índice de desistência é muito alto, a motivaçao é um dos principais aspectos que levam à continuidade dos processos de aprendizagem.
Depois de tudo o que escrevi, insisto num ponto sobre o contexto virtual: quando maior qualidade no ensino, mais significativa será a aprendizagem. Portanto, a qualificaçao do professorado é fundamental neste contexto. Sem a formaçao/capacitaçao necessária e constante, os professores nao poderao ajudar, colaborar e contribuir para o desenvolvimento cognitivo e afetivo dos alunos. Os professores têm um papel determinante neste contexto - ao contrário do que afirmam muitos autores, que confundem independência e autonomia com autoditatismo.
Infelizmente, nem todas as instituiçoes educativas estao preocupadas com o desenvolvimento cognitivo e afetivo de seus alunos - especialmente se fôr à distância. As que buscam principalmente o lucro e que tratam a educaçao como uma mercadoria, continuarao na linha da educaçao bancária (Paulo Freire), que se refere aos depósitos de conteúdo por parte dos professores – como um fluxo linear e unidirecional. As instituiçoes educativas que se preocupam com a qualidade dos processos de ensino e de aprendizagem, fomentarao a capacitaçao dos professores e a reflexao crítica conjunta - que resultará no desenvolvimento de uma forma autêntica de pensamento, de açao e de interaçao.
Deste modo, a qualidade e a eficácia dos processos educativos no contexto virtual está nas maos das instituiçoes e de suas políticas educativas. Depende delas investir no desenvolvimento pedagógico contínuo dos professores e nas mudanças estruturais que este ambiente requer - para alcançar níveis mais altos de desenvolvimento e de satisfaçao.
terça-feira, janeiro 31, 2006
Processos formativos no contexto virtual
Os processos formativos à distância surgiram no final do séc XIX. Naquela época, e até pouco tempo atrás, eram considerados de segunda categoria. Inicialmente, eram processos que se desenvolviam por correspondência; depois, por rádio; mais tarde, por televisao; e, atualmente, com a evoluçao e a convergência das tecnologias, por Internet. A sucessao de etapas ou de geraçoes foi surgindo e foi sendo adotada na medida em que os avanços tecnológicos e os estudos sobre esta modalidade indicavam uma melhora no processo educativo. Em muitos países, algumas destas etapas coincidem. Um exemplo ilustrativo ocorre na África, onde alguns países incentivam o ensino por correspondência e por rádio; ou na China, onde o rádio e a TV sao as tecnologias mais utilizadas pelas instituiçoes educativas.
O contexto virtual proporciona às pessoas um grau de interaçao distinto do que acontecia nas outras modalidades de educaçao à distância até entao conhecidas, como o rádio e a TV - que eram unidirecionais. Neste contexto, o processo bidirecional ou multidirecional pode facilitar a aprendizagem tanto no sentido horizontal (entre alunos), como no sentido vertical (entre profesores e alunos). Além disso, o contexto virtual permite dois tipos de comunicaçao: a síncrona (simultânea) e a assíncrona (em momentos diferentes). Estas potencialidades podem facilitar a integraçao, a cooperaçao e o desenvolvimento de pessoas ou de grupos de uma mesma cultura, ou de culturas distintas.
Os processos de ensino-aprendizagem que ocorrem no contexto virtual nao sao indicados para todos os tipos de professores e nem para todos os tipos de alunos. Muitas pessoas necessitam do contato presencial com o professor e com os demais alunos. E isso é inegável.
Estudos recentes revelam o perfil dos alumnos que se adaptam melhor a este ambiente de aprendizagem: sao alunos que têm entre 25 e 40 anos, que trabalham, que têm família para sustentar e que têm objetivos pessoais e/ou profissionais muito bem definidos. Por tanto, sao alunos que têm muito claro o que querem, mas que nao podem participar das classes presenciais - por problemas laborais, econômicos, familiares, de distância, de tempo, de saúde, de reclusao, de estado civil, etc... Normalmente, os alunos com menos de 25 anos e com uma vida mais descomprometida, preferem o ambiente presencial e a interaçao direta.
Existem alguns aspectos bastante positivos na aprendizagem através de Internet, principalmente no que se refere à autonomia dos alunos em seu processo de aprendizagem. Os alunos que participam de um processo de ensino-aprendizagem através de Internet, em geral, possuem uma menor dependência em relaçao ao professor. Sao alunos mais ativos e decididos, que tendem a buscar informaçoes corretas e atualizadas, a refletir críticamente sobre elas, a seleccionar as melhores informaçoes e a adaptá-las às suas necessidades e interesses. Obviamente, estou falando em tendência, pois nao se pode generalizar.
É importante registar, também como aspecto positivo, que esta modalidade oferece flexibilidade de horários, de ritmos, de espaços de aprendizagem, de estilos de aprendizagem e, principalmente, pode aproximar os processos educativos aos interesses pessoais e coletivos, sejam eles profissionais, sociais, econômicos ou culturais.
Na minha opiniao, a educaçao no contexto virtual nao deve ser vista como uma modalidade que substituirá a educaçao no contexto presencial. Ela deve ser vista como uma modalidade alternativa, que permite ampliar a oferta formativa e que, por ter as características que tem, facilita a aprendizagem e o desenvolvimentos de pessoas que se encontram nos mais diferentes lugares do planeta e que possuem interesses comuns - mas que nao puderam, ou nao podem, participar do sistema presencial por distintos motivos.
A coexistência de diferentes modalidade de processos formativos, com estudos científicos cada vez mais aprofundados sobre suas especificidades e características, beneficia e enriquece os processos de ensino-aprendizagem em cada ambiente, amplia a oferta formativa e contribui para o desenvolvimento da sociedade em geral.
O contexto virtual proporciona às pessoas um grau de interaçao distinto do que acontecia nas outras modalidades de educaçao à distância até entao conhecidas, como o rádio e a TV - que eram unidirecionais. Neste contexto, o processo bidirecional ou multidirecional pode facilitar a aprendizagem tanto no sentido horizontal (entre alunos), como no sentido vertical (entre profesores e alunos). Além disso, o contexto virtual permite dois tipos de comunicaçao: a síncrona (simultânea) e a assíncrona (em momentos diferentes). Estas potencialidades podem facilitar a integraçao, a cooperaçao e o desenvolvimento de pessoas ou de grupos de uma mesma cultura, ou de culturas distintas.
Os processos de ensino-aprendizagem que ocorrem no contexto virtual nao sao indicados para todos os tipos de professores e nem para todos os tipos de alunos. Muitas pessoas necessitam do contato presencial com o professor e com os demais alunos. E isso é inegável.
Estudos recentes revelam o perfil dos alumnos que se adaptam melhor a este ambiente de aprendizagem: sao alunos que têm entre 25 e 40 anos, que trabalham, que têm família para sustentar e que têm objetivos pessoais e/ou profissionais muito bem definidos. Por tanto, sao alunos que têm muito claro o que querem, mas que nao podem participar das classes presenciais - por problemas laborais, econômicos, familiares, de distância, de tempo, de saúde, de reclusao, de estado civil, etc... Normalmente, os alunos com menos de 25 anos e com uma vida mais descomprometida, preferem o ambiente presencial e a interaçao direta.
Existem alguns aspectos bastante positivos na aprendizagem através de Internet, principalmente no que se refere à autonomia dos alunos em seu processo de aprendizagem. Os alunos que participam de um processo de ensino-aprendizagem através de Internet, em geral, possuem uma menor dependência em relaçao ao professor. Sao alunos mais ativos e decididos, que tendem a buscar informaçoes corretas e atualizadas, a refletir críticamente sobre elas, a seleccionar as melhores informaçoes e a adaptá-las às suas necessidades e interesses. Obviamente, estou falando em tendência, pois nao se pode generalizar.
É importante registar, também como aspecto positivo, que esta modalidade oferece flexibilidade de horários, de ritmos, de espaços de aprendizagem, de estilos de aprendizagem e, principalmente, pode aproximar os processos educativos aos interesses pessoais e coletivos, sejam eles profissionais, sociais, econômicos ou culturais.
Na minha opiniao, a educaçao no contexto virtual nao deve ser vista como uma modalidade que substituirá a educaçao no contexto presencial. Ela deve ser vista como uma modalidade alternativa, que permite ampliar a oferta formativa e que, por ter as características que tem, facilita a aprendizagem e o desenvolvimentos de pessoas que se encontram nos mais diferentes lugares do planeta e que possuem interesses comuns - mas que nao puderam, ou nao podem, participar do sistema presencial por distintos motivos.
A coexistência de diferentes modalidade de processos formativos, com estudos científicos cada vez mais aprofundados sobre suas especificidades e características, beneficia e enriquece os processos de ensino-aprendizagem em cada ambiente, amplia a oferta formativa e contribui para o desenvolvimento da sociedade em geral.
segunda-feira, janeiro 30, 2006
O pontinho negro
Algumas músicas sao agradáveis ao ouvido e ficam para sempre, mesmo que a gente nao entenda toda a letra, ou que só as descubra anos mais tarde. Cada vez que ouço Cabaret, com Liza Minelli, penso em como gostaria de ter participado daquele musical. Adoro! Outra música que gosto muito é New York, New York, com Frank Sinatra. Esta, da mesma forma, me dá vontade de dançar e de cantar. Também sinto muito prazer ao ouvir a voz de Ray Charles em I can`t stop loving you e em Sweet memory. E nao poderia esquecer Louis Armstrong cantando What a wonderful world. Sao músicas que ficam, que transcendem o idioma e que a gente nem sabe bem o porquê delas permanecerem. Normalmente, vejo os musicais repetidas vezes. Muitas vezes. Lembro que assisti ao filme All That Jazz umas cinco ou seis vezes; Hair, outras tantas...e assim por diante. Depois do aparecimento dos vídeos - que vi nascer -, eu tinha vários musicais em casa para os momentos de lazer. Um deles era o de Bibi Ferreira, que era a minha relíquia. Eu me emocionava cada vez que o via/ouvia/sentia. Um dia, de tanto assisti-lo, a fita enrolou, cortou... e meu coraçao murchou um pouco.
Agora, com os DVDs, e também com a minha estada na Espanha, que contribui de certa maneira para ampliar meus sentidos e meus gostos, ando descobrindo e me deliciando com novos gêneros musicais, que passam a fazer sentido para meu coraçao e meu ouvido. Mas, evidentemente, nao abandono as raízes e a inigualável música brasileira, repleta de lirismo e de poesia.
Neste momento do texto, relendo o primeiro parágrafo, lembrei que, em 1980, num verao carioca da minha existência, quando passava férias na casa da minha grande amiga Ilka Pichin, o dono da voz - Frank Sinatra - fez um show no Maracana (a falta do til, às vezes, dificulta a minha escrita). Nós duas, entusiasmadas, fomos assistir ao grande mito da música norte-americana. Fomos cedo e esperamos horas para que começasse o show. Vimos, perplexas, a multidao que entrava e lotava o estádio - mais de 150 mil pessoas. E, quando o espetáculo teve início, percebemos apenas um pontinho negro no centro do estádio. Nada mais que isso. Um foco de luz iluminava o pontinho negro. O pontinho cantava com a voz do ídolo, o que nos fez supor que era ele. Foi bárbaro, disseram. Saímos tronchas de decepçao. Nao vimos, nao entendemos, nao gostamos e pagamos uma barbaridade!
De qualquer maneira, mesmo com a desilusao sofrida naquela noite de 80, continuo sentindo alegria quando ouço New York, New York.
domingo, janeiro 29, 2006
O primeiro Panerai na terra brasilis
Meu avô materno era italiano, de Florença. Nunca entendi bem o motivo dele ter saído desta cidade, berço do Renascimento, e ter ido para o Brasil, na primeira década de 1900.
Uma vez, ouvi uma versao romanceada de sua história que pode explicar sua mudança de país, de continente e de vida. Parece que ele e seus irmaos nao tinham pais e foram criados por um tio bastante rico. Este tio enviou os irmaos para uma universidade da Inglaterra. Meu avô fez Engenharia; os outros, nao sei. Quando eles voltaram para a Itália, anos mais tarde, meteram-se em política e, depois, desapareceram na clandestinidade.
No Brasil, também nao sei o motivo, ele teve que optar pela cidadania brasileira. Teve que optar ou quis optar. Com esta atitude, nós, os descendentes de terceira geraçao, nao pudemos requerer a cidadania italiana.
Este homem, que estava habilitado para o desempenho da Engenharia, nao podia assinar suas plantas das construçoes. Ele fazia os projetos e outros engenheiros assinavam por ele - que se transformou num mestre-de-obras muito requisitado.
Inicialmente, ele dirigiu-se ao Rio Grande do Sul e aí começou a construir pontes para a Viaçao Férrea. Construiu várias pontes para trens - sobre rios e sobre grandes alturas. Com isso, ele viveu um tempo em cada cidade. Teve sete filhos e cada um nasceu num lugar diferente, praticamente: Pelotas, Pedras Altas, Cacequi, Bento Gonçalves, Santa Maria, Passo Fundo e, novamente, Santa Maria.
Nao sei em que ano e nem como, meu avô foi chamado a Pinheiro Machado pelo Sr. Assis Brasil. Este senhor propôs que meu avô participasse de uma equipe de pessoas que trabalharia na construçao de um castelo com traços medievais, em Pedras Altas, a poucos quilômetros de Pinheiro Machado. O Sr. Assis Brasil tinha casado com uma nobre européia e queria dar-lhe um castelo para viver. Meu avô aceitou a proposta e instalou-se na regiao. Nesta época, ele tinha duas filhas em idade de escolarizaçao: minhas tias Luiza e Marina. Estas duas meninas tiveram classes com professores que o Sr. Assis Brasil contratava para suas filhas. Elas eram todas amigas e brincavam juntas. Minhas tias, quando eram adultas e já tinham partido daquela regiao há muitos anos, seguiam recebendo cartas das filhas do Sr. Assis Brasil.
Depois, meu avô foi construir pontes em Cacequi e em Bento Gonçalves.
Minha mae contava que seu pai era um homem de letras também. Ele lia tudo o que encontrasse pela frente. Segundo palavras dela, ele fez com que todos seus filhos estudassem - numa época em que o estudo era para os ricos. Ele era pobre, trabalhador, e, já naquela época, dizia que a herança que deixaria para seus filhos era a educaçao e a cultura. E tudo o que ele ganhava era investido na educaçao de seus filhos.
Lembro das histórias que minhas tias contavam que, para estudar, elas tinham que deslocar-se, diariamente, quilômetros e quilômetros a cavalo. Depois, para dar classes, a mesma coisa.
Sem dúvidas, ele alcançou seus objetivos, pois seus filhos estudaram e sempre apreciaram a leitura - como ele.
De certa maneira, eu vivo a experiência inversa. Às vezes, estando a 12 mil quilômetros das minhas origens, pergunto-me o que sentiria ele em relaçao a sua família e ao seu país. Eu vivo numa época em que a Internet e o telefone minimizam qualquer crise de saudade e onde a distância geográfica desaparece com os contatos diários. E ele? Como ele fazia para aliviar sua saudade? Estas perguntas ficam sem resposta, só no plano da imaginaçao.
Uma vez, ouvi uma versao romanceada de sua história que pode explicar sua mudança de país, de continente e de vida. Parece que ele e seus irmaos nao tinham pais e foram criados por um tio bastante rico. Este tio enviou os irmaos para uma universidade da Inglaterra. Meu avô fez Engenharia; os outros, nao sei. Quando eles voltaram para a Itália, anos mais tarde, meteram-se em política e, depois, desapareceram na clandestinidade.
No Brasil, também nao sei o motivo, ele teve que optar pela cidadania brasileira. Teve que optar ou quis optar. Com esta atitude, nós, os descendentes de terceira geraçao, nao pudemos requerer a cidadania italiana.
Este homem, que estava habilitado para o desempenho da Engenharia, nao podia assinar suas plantas das construçoes. Ele fazia os projetos e outros engenheiros assinavam por ele - que se transformou num mestre-de-obras muito requisitado.
Inicialmente, ele dirigiu-se ao Rio Grande do Sul e aí começou a construir pontes para a Viaçao Férrea. Construiu várias pontes para trens - sobre rios e sobre grandes alturas. Com isso, ele viveu um tempo em cada cidade. Teve sete filhos e cada um nasceu num lugar diferente, praticamente: Pelotas, Pedras Altas, Cacequi, Bento Gonçalves, Santa Maria, Passo Fundo e, novamente, Santa Maria.
Nao sei em que ano e nem como, meu avô foi chamado a Pinheiro Machado pelo Sr. Assis Brasil. Este senhor propôs que meu avô participasse de uma equipe de pessoas que trabalharia na construçao de um castelo com traços medievais, em Pedras Altas, a poucos quilômetros de Pinheiro Machado. O Sr. Assis Brasil tinha casado com uma nobre européia e queria dar-lhe um castelo para viver. Meu avô aceitou a proposta e instalou-se na regiao. Nesta época, ele tinha duas filhas em idade de escolarizaçao: minhas tias Luiza e Marina. Estas duas meninas tiveram classes com professores que o Sr. Assis Brasil contratava para suas filhas. Elas eram todas amigas e brincavam juntas. Minhas tias, quando eram adultas e já tinham partido daquela regiao há muitos anos, seguiam recebendo cartas das filhas do Sr. Assis Brasil.
Depois, meu avô foi construir pontes em Cacequi e em Bento Gonçalves.
Minha mae contava que seu pai era um homem de letras também. Ele lia tudo o que encontrasse pela frente. Segundo palavras dela, ele fez com que todos seus filhos estudassem - numa época em que o estudo era para os ricos. Ele era pobre, trabalhador, e, já naquela época, dizia que a herança que deixaria para seus filhos era a educaçao e a cultura. E tudo o que ele ganhava era investido na educaçao de seus filhos.
Lembro das histórias que minhas tias contavam que, para estudar, elas tinham que deslocar-se, diariamente, quilômetros e quilômetros a cavalo. Depois, para dar classes, a mesma coisa.
Sem dúvidas, ele alcançou seus objetivos, pois seus filhos estudaram e sempre apreciaram a leitura - como ele.
De certa maneira, eu vivo a experiência inversa. Às vezes, estando a 12 mil quilômetros das minhas origens, pergunto-me o que sentiria ele em relaçao a sua família e ao seu país. Eu vivo numa época em que a Internet e o telefone minimizam qualquer crise de saudade e onde a distância geográfica desaparece com os contatos diários. E ele? Como ele fazia para aliviar sua saudade? Estas perguntas ficam sem resposta, só no plano da imaginaçao.
O horóscopo chinês
No horóscopo chinês, o signo de alguém corresponde ao animal regente do ano em que a pessoa nasceu. Os animais do zodíaco sao mensageiros que permitem ao homem estabelecer contato com a energia essencial. Os doze animais existentes sao: rato, vaca, tigre, coelho, dragao, serpente, cavalo, ovelha, macaco, gato, cachorro e porco.
O rato sempre é o primeiro animal do zodíaco porque, segundo conta a lenda, houve uma corrida entre os animais para ver quem chegaria primeiro ao céu. Quando começou a competiçao, o rato subiu em cima da vaca - para nao cansar - e fez todo o trajeto escondido em sua orelha. Como o rato é muito inteligente, quando viu que estavam chegando ao céu, saltou, correu e chegou em primeiro lugar. Depois, chegou a vaca, o tigre, o coelho...por último, o porco. O ano deste animal - o porco - é considerado pelos chineses como dos piores do calendário.
Os doze animais astrológicos aparecem cinco vezes durante o grande ano, que é um ciclo de 60 anos - tempo que o planeta Júpiter demora para dar a volta ao zodíaco. Nestas cinco vezes, o mesmo animal aparece de forma ligeiramente distinta, porque depende da influência que ele sofre dos diferentes elementos: terra, fogo, ar e água.
Ontem, dia 28 de janeiro, encerrou-se o ano do galo; hoje, inicia-se o ano do cachorro. Portanto, a cultura chinesa está de festa no mundo todo.
Os chineses consideram que este será um ano bom e positivo. Eles acreditam que as características do cachorro, como a amizade, a fidelidade, o carinho e a harmonia contribuirao para suavizar os conflitos mundiais e os problemas decorrentes deles. Além disso, os chineses apostam num ano especial porque o período do cachorro será influenciado pelo elemento fogo, que simboliza calor, luz e abertura.
A última vez que se reuniram estas condiçoes foi em 1946, o primeiro ano de paz depois da II Guerra Mundial.
O rato sempre é o primeiro animal do zodíaco porque, segundo conta a lenda, houve uma corrida entre os animais para ver quem chegaria primeiro ao céu. Quando começou a competiçao, o rato subiu em cima da vaca - para nao cansar - e fez todo o trajeto escondido em sua orelha. Como o rato é muito inteligente, quando viu que estavam chegando ao céu, saltou, correu e chegou em primeiro lugar. Depois, chegou a vaca, o tigre, o coelho...por último, o porco. O ano deste animal - o porco - é considerado pelos chineses como dos piores do calendário.
Os doze animais astrológicos aparecem cinco vezes durante o grande ano, que é um ciclo de 60 anos - tempo que o planeta Júpiter demora para dar a volta ao zodíaco. Nestas cinco vezes, o mesmo animal aparece de forma ligeiramente distinta, porque depende da influência que ele sofre dos diferentes elementos: terra, fogo, ar e água.
Ontem, dia 28 de janeiro, encerrou-se o ano do galo; hoje, inicia-se o ano do cachorro. Portanto, a cultura chinesa está de festa no mundo todo.
Os chineses consideram que este será um ano bom e positivo. Eles acreditam que as características do cachorro, como a amizade, a fidelidade, o carinho e a harmonia contribuirao para suavizar os conflitos mundiais e os problemas decorrentes deles. Além disso, os chineses apostam num ano especial porque o período do cachorro será influenciado pelo elemento fogo, que simboliza calor, luz e abertura.
A última vez que se reuniram estas condiçoes foi em 1946, o primeiro ano de paz depois da II Guerra Mundial.
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