Há algumas semanas atrás, comentei que tinha trabalhado muitos anos com duas senhoras que padeciam de Alzheimer. Este trabalho me proporcionou um certo conhecimento a respeito desta enfermidade. Li muito sobre o tema, e continuo lendo.
Ultimamente, ando preocupada com os números alarmantes do crescimento/incidência desta doença - que é degenerativa e nao tem recuperaçao. Li num artigo hoje que, se nao encontrarem logo a cura do Alzheimer, esta doença alcanzará proporçoes epidêmicas até a metade do século. Nao gosto de ameaças catastróficas - e como elas existem! -, mas fiquei apreensiva com a notícia.
Depois de ler o texto, encontrei uma pessoa cuja mae está no segundo estágio desta doença. Ela me contou da dificuldade de levar uma situaçao assim e de seu pânico em relaçao ao futuro. Enquanto ela falava, eu lembrava de coisas que tinha lido como a deteriorizaçao lenta das células nervosas, que vao impedindo a pessoa de dominar as emoçoes, reconhecer padroes de comportamento e coordenar o movimento e as lembranças. A pessoa acometida deste mal vai perdendo a memória e o funcionamento mental. Suas reaçoes podem ser inesperadas e, muitas vezes, agressivas, mas esta situaçao de inestabilidade é provocada pela terrível desorientaçao que o enfermo sofre. Realmente, é muito ruim sentir a perda gradativa das capacidades e sentir o medo incontrolável com relaçao às distintas situaçoes vividas no cotidiano, que antes eram normais.
Para os familiares, nao é fácil manter a serenidade, embora esta seja a necessidade principal do enfermo. Sentir a tranquilidade das pessoas que o cercam é a unica maneira de minimizar os medos e os fantasmas. Esta enfermidade mexe com a estabilidade de todos. A família, muitas vezes, sente-se tao perdida e desorientada quanto o paciente.
Conversei um bom tempo com esta pessoa e tentei acalmar seus sentimentos. Expliquei que ela devia estabelecer uma rotina diária, cômoda e estável para a sua mae. A novidade provoca ansiedade nestes doentes. E a rotina proporciona segurança. Entao, é aconselhável que exista uma mesma rotina para despertar, banhar, vestir - sempre na mesma sequência -, tomar café, fazer alguma atividade....dia após dia. O paciente, na medida do possível, deve saber qual será o próximo passo. Isso só é possível, naturalmente, num estágio inicial.
Como eu disse anteriormente, a tranquilidade do lar é um dos fatores mais importantes para o equilíbrio do paciente. As visitas familiares devem ser relaxadas e sem nenhuma cobrança ao doente, que necessita sentir apoio, carinho e incentivo, mas nenhuma pressao. Os familiares devem incentivar o paciente a lembrar de eventos passados e presentes, de datas importantes, de pessoas conhecidas - mas sem nenhuma pressao se ele nao conseguir lembrar.
É imprescindivel tentar evitar os traumatismos, deixando a casa livre de obstáculos que possam provocar acidentes. Como estes doentes padecem de falta de equilíbrio e de coordenaçao, as quedas sao frequentes. O melhor é tirar todos os tapetes, fios e extensoes que possam existir na casa. E comprar sapatos antiderrapantes - com solas de borracha.
É recomendável, para facilitar a localizaçao no tempo, comprar um calendário grande e um relógio também grande. A cada dia que passa, deve-se solicitar ao paciente que marque com um X no dia presente.
Numa fase mais adiantada, é bom colocar desenhos nas portas da casa, especialmente no banheiro. O paciente fica desorientado, sem saber onde está e para onde deve ir. Algumas famílias colocam etiquetas com os nomes dos objetos da casa.
Outros aspectos fundamentais a observar no cotidiano de um paciente de Alzheimer sao a delicadeza e o respeito na conversaçao; a fala tranquila e serena; as frases curtas e objetivas; ter sempre uma explicaçao para tudo o que se faz; gesticular de forma pausada e calma; incluir o paciente na conversaçao, sempre que possível - mas sem que isso represente uma angústia ou uma pressao para ele. Tudo tem que ser muito tranquilo e cuidadoso para nao assustar e provocar reaçoes adversas no paciente.
Também é legal cantar com eles; ler revistas e jornais com muitas gravuras; ver fotos, repetidas vezes; varrer uma peça da casa; pintar; desenhar; jogar levemente uma bola; ver filmes antigos; passear por caminhos muitas vezes percorridos; fazer exercícios leves, como se fosse uma brincadeira, estimular que eles contem sua história, ...e ir descobrindo o que mais causa prazer, alegria ou relaxaçao.
Lembro que as duas irmas que eu cuidava tinham aversao à banheira - e aqui na Espanha todas as casas têm banheira. Eu percebia que elas tinham medo. Li hoje, neste artigo, que a banheira passa a ter uma profundidade impressionante para os enfermos de Alzheimer e que o ruído da água também provoca muito medo neles - como a alguns bebês. Nem sempre nos damos conta da magnitude dos delírios que atravessam seus pensamentos. É preciso estar muito atento aos sinais nao-verbais.
Esta doença devora a memória e as possibilidades de pensamento lógico e abstrato da pessoa, deixando verdadeiros buracos negros em sua existência. É um processo que gera desespero e ansiedade, tanto para o paciente como para a família que o cerca. Os dados mostram que este período de degeneraçao progressiva - que exige tanta doaçao e paciência por parte da família - pode deixar seqüelas sérias em todos. Por este motivo, existem grupos de apoio e terapias especializadas neste tema. É importante que a família possa compartilhar os sentimentos com pessoas preparadas para esta finalidade - para enfrentar a situaçao da forma mais tranquila possível.
segunda-feira, março 13, 2006
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4 comentários:
Parabéns pelo excelente texto e pelas dicas!!Tu conheceste essa doença porque quiseste ajudar os teus dois "anjos'da melhor forma possível, e o teu carinho e amor foram muito importante para elas.
Acho também que o melhor é buscar informações/apoios nas associações. Aqui no Brasil tem a ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer), que faz reuniões mensais para dar orientação e carinho aos cuidadores, que precisam estar muito bem de saúde para se adaptar à nova realidade.
O serviço público também contribui disponibilizando um remédio que dá uma melhor qualidade de vida aos pacientes, mas para isso, o paciente tem que atender a determinados critérios preconizados pelo Ministério da Saúde e atingir uma pontuação mínima no exame mini mental, o qual pergunta, dentre outras coisas, qual o dia da semana, qual o mês.Eu acho que essa metodologia adotada é falha, pois o paciente pode nao lembrar do dia exato, mas se dissermos que o dia anterior ou o posterior é tal, ele pode muito bem se situar e dizer com toda certeza qual o dia de hoje. Penso que essas lacunas são deixadas justamente porque infelizmente ainda é uma doença pouco estudada.
É isso mesmo, Cidinha! Tua participaçao ajuda e ilustra esta situaçao que afeta a tantas pessoas. Obrigada!!! Bjs.
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