sexta-feira, outubro 13, 2006

Capao da Canoa

Eu vivi em Capao da Canoa durante 2 anos e meio. Foi uma época maravilhosa! Recebi esta foto de lá, de uma amiga querida, e senti saudade daquele tempo. Nao é uma saudade dolorida ou sofrida; é uma saudade doce, que traz boas lembranças dos momentos vividos.
Acho que em Capao da Canoa vivi realmente o meu corte umbilical/familiar. Ali, aprendi a viver sozinha, independente, com os meus primeiros salários - fui para trabalhar no Banrisul, logo depois de me formar.
Eu vivia na parte turística - entre a Av. Paraguaçu e o mar - e era a única moradora de um edifício de 5 andares. Nao tinha vizinhos em toda a quadra. Naquela parte da cidade, quando era inverno, só o vento circulava e, à noite, ele gritava. No início, eu tinha medo, pois o som era assustador mesmo. Depois, entendi que ele fazia parte da história, e passei a dormir tranquila. Lembro perfeitamente das minhas múltiplas caminhadas, de dia e de noite, no frio intenso e no vento que nao dava tréguas. E na absoluta solidao! Mas nao era uma solidao sofrida. Eu estava inteira e bem comigo naqueles caminhos e movimentos.
Alguns membros de minha família e alguns amigos pensavam que eu estava doida por viver numa cidade fantasma, que só tinha movimento de gente durante 2 ou 3 meses por ano. Mas foi ali que eu me fiz maior.
O inverno era mais duro, mas eu recebia a visita de amigos em muitos finais de semanas e isso me proporcionava o calor e a energia que necessitava. Tinha uma churrasqueira que estava sempre ligada. Além disso, nunca li tanto na minha vida. Era legal ter distintos jardins à disposiçao para colocar uma cadeira, o chimarrao e os livros e jornais. Na primavera e no outono, uma ou outra casa abria suas portas e circulava mais gente, especialmente nos finais de semana - mas nada que se comparasse aos 3 meses de verao. No auge do verao a vida se tornava quase insuportável: os supermercados abarrotados, os bares e restaurantes cheios e o burburinho nao cessava nunca. Nós, os moradores, ficávamos impacientes. Quando os veranistas partiam, voltava a alegria. Para quem morava em Capao, a praia era um lazer de quase todo o ano. Ali, caminhávamos, pescávamos, líamos, jogávamos voleibol...
Quando o tempo bom ou mais ameno começava a chegar, eu partia de moto para outras praias e para as lagoas da regiao. Ia até Santa Catarina, voltava, ia novamente. O verao era repleto de (re)encontros com amigos de todo o RS que veraneavam naquele vasto litoral, em diferentes praias. Eu vivia com uma mochila nas costas e sobre duas rodas, sentindo sintonia com a natureza e com aquele marzao que me acompanhava pelas estradas que eu percorria...imagens e sensaçoes inesquecíveis! Foi uma época relmente bonita! Saudade doce...

8 comentários:

Telejornalismo Fabico disse...

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tu tem que ter sangue cigano nas veias.
ou bicho carpinteiro no pé.


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Ana disse...

"Alma Cigana"!
Esta definição é tua... E quanto mais te leio, mas concordo e me encanto!

Marcia disse...

eu lembro daquela moto. :)

Luiz Felipe Botelho disse...

É a crônica sucinta - e nem por isso menos sensível e tocante - de um grande rito de passagem.
E da maneira como descreves a experiência, as imagens que vêm evocam mesmo algo de sutilmente mítico, exótico, como um longo sonho cheio de cores e sensações, daqueles que a gente sonha e só se dá conta que estava sonhando quando acorda.
Lindo, Martha.
Bj

Telejornalismo Fabico disse...

*


essa tua história tem me feito pensar.



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Anónimo disse...

Linda tua crônica, da moto eu ñ sabia!! Vcê me surprende sempre!!

Pablo disse...

Jamía, qué bonito! Envidio esa vida. Aunque haya sido dificil y la soledad se lleve mal lo que nos queda es el recuerdo, y ese es bueno.

Luiz Felipe Botelho disse...

Ih, que mico, Thelma!
Foi aqui que te chamei de Martha! Com th e tudo.
Corei. :]
Bj