terça-feira, janeiro 17, 2006

O exame de admissao

Antigamente, o curso primário tinha 5 anos. Depois, passávamos para o ginásio - se aprovados e bem classificados. Todos tínhamos que fazer um exame de conhecimentos gerais - matemática, português, história, geografia e ciências -, que se chamava exame de admissao ao ginásio. A idade dos concursantes variava entre 10 e 12 anos. Era um exame bastante temido, que provocava um nervosismo geral - tanto nos pais como nos alunos. No caso de nao alcançar a aprovaçao e a classificaçao, voltávamos para o colégio primário e cursávamos um ano mais - a sexta série. Esta sexta série era muito mal vista entre professores e estudantes. Era pior que estudar numa série B. Para nao sofrer o risco de ter que voltar para a escola primária e cursar esta sexta série tao preconceituada, fazíamos exames em vários colégios - alguns privados, que facilitavam a aprovaçao dos alunos, em troca de gordas mensalidades. Em nossa casa, a realidade financeira nao nos permitia fazer este exame em escolas particulares. Portanto, só nos inscrevíamos em escolas públicas. No caso de nossa cidade, Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, existiam duas escolas públicas muito boas, que rivalizavam entre si: o Colégio Maria Rocha e o Colégio Manoel Ribas (conhecido por Maneco). Nunca tinha me dado conta que era um nome de mulher e um nome de homem. Talvez por isso eu estudasse no Manoel Ribas e simpatizasse tanto com o Maria Rocha.
Meus irmaos e eu fizemos exames nestes dois colégios e fomos aprovados em ambos, mas todos optamos pelo Maneco - o colégio cujo uniforme levava no peito uma letra M (de Maneco) bem grande. Felizmente, nenhum de nós necessitou fazer um segundo exame. Todos passamos tranquilamente pelo exame de admissao, com ótimas notas.
Neste ponto, quero registrar que alguns poucos alunos - sempre os mais inteligentes e preparados - nao completavam os 5 anos de primário, como a esmagadora maioria. Estes alunos, quando terminavam a 4ª série, inscreviam-se para o fazer o exame de admissao ao ginásio. Eram os que "pulavam o 5º ano". Passavam diretamente da 4ª série do primário, para o ginásio. Só os que realmente estavam muito preparados obtinham aprovaçao e classificaçao no ginásio, porque, teoricamente, o 5º ano era o ano de revisar tudo o que se tinha aprendido no primário. Era o ano de preparaçao para o exame de admissao. Um dos poucos alunos que conseguiu esta façanha foi o meu irmao, Jayme. Ele conseguiu esta proeza histórica e reconhecida por todos! Naquela época, com a idade que tínhamos e no contexto em que vivíamos, "pular o 5º" era o máximo! Durante anos, contávamos aos amigos que nosso irmao tinha "pulado o 5º". Sentíamos que ele era um gênio. Era o nosso ídolo. Este irmao foi o primeiro que entrou no Maneco. Levou com ele a fama de inteligente. Em pouco tempo, as professoras já o queriam e o cuidavam com especial atençao. Anos mais tarde, entrou o segundo irmao, Felipe, que sempre foi o mais disciplinado, estudioso e meigo, e que até hoje cativa a gregos e troianos. Era um aluno nota dez, daqueles que todos os professores amam ter em suas classes.
Quando entrei eu, já tinha um sobrenome conhecido no colégio e, obviamente, as expectativas docentes já estavam delineadas no que se referia a mim. Mas nao respondi a estas expectativas, infelizmente. Eu nao era tao inteligente, nem era a mais disciplinada, nem a mais simpática e nem a mais fácil de tratar. A verdade é que eu nao possuía o brilho e o carisma de meus irmaos. Talvez por isso, padecia de uma timidez patológica. No Maneco, sempre fui um aluna mediana. Nunca reprovei, mas nao fui das alunas que sobressaía - com exceçao dos trabalhos de português e de algumas redaçoes que ganharam prêmios no colégio. No geral, eu preferia nao ser notada. No científico, nesta mesma escola, fui mais concentrada e dedicada. Lembro de muitos colegas da época: o Pedro, a Cintia, o Otto, o Bira, o Carlos Augusto, a Sandra, o Régis, a Marta, o Claúdio....
Durante os 7 anos que estudei neste colégio, sempre fui melhor em Português, embora também gostasse da Matemática.
Agora, passadas décadas daquela época, penso que eu - que simpatizava muito com o colégio Maria Rocha - optei pelo Maneco porque, enfim, poderia estudar no mesmo colégio que meus irmaos. O trauma da separaçao que sofri na 1ª série do primário me fazia optar por este colégio, sem maiores questionamentos. Mas nunca tive claro que esta tenha sido a melhor opçao. Sempre me pergunto porque nao ousei mais e nao me fiz mais independente, naquele momento - no momento do exame de admissao ao ginásio. O que teria acontecido se eu tivesse me permitido ouvir meu coraçao e tivesse optado pelo colégio Maria Rocha? Será que meus caminhos e movimentos teriam sido distintos? É possível.

5 comentários:

Anónimo disse...

Lembro-me bem desse temido exame.
Na época em que fazia a 4ª série, ao mesmo tempo me preparava para o tal exame de admissão que faria ao final do ano, de formas que se fosse aprovada não teria de fazer a 5ª ´serie.
Estudava muito o dia inteiro e `a noite ainda tinha que fazer os exercícios que teria de levar para a escola no dia seguinte. Foi um ano cansativo, mas valeu a pena porque fui aprovada e fiquei muito feliz, pois já iria cursar o 1º ano ginasial.
Lembro-me que a prova de portugûes era eliminatória, causando o maior suspense. Matemática foi a minha melhor nota - 9,5. Em todo o ginásio foi minha matéria preferida e na qual me destacava.
Logo veio também a paixão pela literatura com a leitura do livro de Clarice Lispector: Uma aprendizagem ou livros dos Prazeres. Desde então nunca mais parei de ler.
Que bom recordar esse tempo!

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