segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Tio Lydio

No dia 29 de janeiro, neste blog, escrevi um texto sobre o primeiro Panerai na terra brasilis: meu avô materno. Contei, neste texto, que ele teve 7 filhos.

Atualmente, dos 7 filhos do italiano, apenas um deles está vivo: o meu tio, Lydio Panerai.

Sempre me pergunto o que faz com que uns morram e outros sobrevivam dentro de uma mesma família. Que componentes entram na morte e na vida das pessoas ligadas por laços de sangue? Onde este tio encontrou garra e motivaçao para viver com a arte que sempre viveu? Por que os outros nao saborearam a vida com o talento que ele demonstra? Talvez as respostas estejam nos objetivos de vida que cada um define para si e na satisfaçao percebida nas relaçoes interpessoais e profissionais.

A serenidade, a meiguice, a delicadeza e a extrema simpatia deste tio, sao algumas das características que constituem a integridade deste homem que soube definir claramente seus caminhos. E, nos caminhos percorridos, ele sempre viveu bem na companhia de sua esposa Maria. Os dois viajam pelo mundo e se acompanham com muita criatividade e disposiçao. Sao companheiros autênticos. Almas gêmeas. Ela é escritora e publicou vários livros. Também fez muitas novelas para o rádio. Ele é o principal admirador de sua obra. Possivelmente, a arte dela se vinculou ao talento e à força dele, e o resultado é que os dois vivem saudavelmente a vida.

Eu o vejo como um porto seguro que aceita e recebe todos os que vierem em paz e com boas intençoes. Acho que ele representa a estrutura que sempre porporcionou equilíbrio e segurança para que os membros da sua família pudessem realizar todos os vôos desejados e imaginados, e voltassem ao porto tranquilo que ele oferecia quando quisessem ou necessitassem.

Como eu sempre vivi longe dele, pedi à tia Maria, sua esposa, que contasse alguns detalhes da existência deste grande homem. Pedi um breve relato, ao que ela respondeu imediatamente afirmando que era impossível fazer um breve relato de um homem como ele. Realmente!

Aqui, apresento o olhar e os sentimentos de minha tia, sua companheira de mais de 60 anos de vida conjunta.

Monumento: Obra ou construção destinada a transmitir à posteridade a memória de de fato ou pessoa notável; Qualquer obra notável.

Sentinela avançada: O que está à frente, soldado que fica a um posto para o guardar.Pessoa incumbida de vigiar ou guardar alguma coisa; vigia; sentinela; atalaia; o último a abandonar o campo ou a luta.

Ser tudo isso é ser Lydio Panerai.

P anerai,
A ntes de tudo, é digno, ama com moderação, e
N unca precisa perdoar, muito menos ser perdoado, pois
E spera pela volta daquele que lhe volta as costas, e
R i antes de chorar; dosa com sabedoria o choro/riso, e
A ntes de punir, julga com a razão = ao coração, e, sendo
I mparcial, humilde, crê sem fanatismo no Ser Maior.

Eu diria, dentro do meu estilo lírico, que esse acróstico bem pode ser desenvolvido num relatório ou descrição plena de um Lydio Panerai. Homem que nunca colocou o ser "macho" como apologia do Ser. Nem fez da força a sua defesa e nem arma de ataque.

Nem da palavra a lâmina aguçada; mas o entendimento pela própria palavra, ou até mesmo o silêncio de que muitas vezes fez uso com sucesso, em momento oportunos, e, vezes muitas, calou, não por covardia, mas por plena sabedoria de quem cala no momento certo. E o choro, não sendo o seu forte - e não praticado -deu-lhe a couraça de que precisou para não se acovardar.

Doou-se, sem nunca pedir retorno; feriu-se sem nunca desejar vingar-se; amou sem nunca querer a volta. Caminhou a vida sem precisar lamentar as quedas que foram sucedendo - nessa caminhada: - à sua própria vida.

Nunca foi dado ao ridículo, nunca julgou e nem nunca excedeu-se, nem em ódio e nem em amor. Moderado? Talvez, sim. Cauteloso, eu diria.

Nunca ajoelharia diante de um ídolo ou "herói"!, e nem nunca aceitaria ser chamado um deles. Não foi ridículo nem nunca redicularizou alguém. Está sempre pronto à Longa Viagem, sem precisar do ato confessor de contrição, porque o seu dia a dia já é um Ato de estar pronto à Longa Viagem.

Nunca exigiu respeito e sempre lhe foi dada a dignidade do respeito. Nunca elevou a voz, em ordem de "calem-se". Calou, muitas vezes, para que outros fizessem o mesmo: calarem. Finalmente, Lydio Panerai, sendo o último remanescente,- no meu entender humilde - é, na verdade, a estaca cravada na história final dos descendentes de Abel Panerai, onde terão começo outras
histórias, contadas em outras eras, isso é certo e incoteste, e assim infinitamente, porque é produto de semente boa, e, como semente boa, irá renascer em outras sementes e outras semente e assim, infinitamente...

Não tenho mais a dizer, senão:

Vivo junto a um Monumento que está comigo cerca de sessenta anos, e diante do qual eu me posto, em contemplação, pelo muito que sempre deu a mim, sem nunca pedir retorno, em menor gesto ou palavra mais egoista: ele é Lydio Panerai.

Esta sao as palavras de uma esposa agradecida a um companheiro maravilhoso. Uma história bonita!

8 comentários:

Anónimo disse...

Que bela dedicatória da tua tia, e que bela história de amor, tão rara nesses nossos dias tão tomados por egocêntrismos.
Tiveste uma ótima idéia ao escrever sobre o teu tio, e me presenteaste com essa linda história de troca e companheirismo.
Adorei-a!!

Anónimo disse...

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Saudade Tio Lydio.
Que Deus o ilumine!
Beijos!
Lucio Panerai

Anónimo disse...

E em novembro passado, no dia 16, faleceu a Maria Panerai. Ninguém fez uma saudosa mensão ao seu falecimento, uma pessoa que significou tanto nas tele rádios. Espero que vc no seu blogger consiga...
agradeço...