Meu avô materno era italiano, de Florença. Nunca entendi bem o motivo dele ter saído desta cidade, berço do Renascimento, e ter ido para o Brasil, na primeira década de 1900.
Uma vez, ouvi uma versao romanceada de sua história que pode explicar sua mudança de país, de continente e de vida. Parece que ele e seus irmaos nao tinham pais e foram criados por um tio bastante rico. Este tio enviou os irmaos para uma universidade da Inglaterra. Meu avô fez Engenharia; os outros, nao sei. Quando eles voltaram para a Itália, anos mais tarde, meteram-se em política e, depois, desapareceram na clandestinidade.
No Brasil, também nao sei o motivo, ele teve que optar pela cidadania brasileira. Teve que optar ou quis optar. Com esta atitude, nós, os descendentes de terceira geraçao, nao pudemos requerer a cidadania italiana.
Este homem, que estava habilitado para o desempenho da Engenharia, nao podia assinar suas plantas das construçoes. Ele fazia os projetos e outros engenheiros assinavam por ele - que se transformou num mestre-de-obras muito requisitado.
Inicialmente, ele dirigiu-se ao Rio Grande do Sul e aí começou a construir pontes para a Viaçao Férrea. Construiu várias pontes para trens - sobre rios e sobre grandes alturas. Com isso, ele viveu um tempo em cada cidade. Teve sete filhos e cada um nasceu num lugar diferente, praticamente: Pelotas, Pedras Altas, Cacequi, Bento Gonçalves, Santa Maria, Passo Fundo e, novamente, Santa Maria.
Nao sei em que ano e nem como, meu avô foi chamado a Pinheiro Machado pelo Sr. Assis Brasil. Este senhor propôs que meu avô participasse de uma equipe de pessoas que trabalharia na construçao de um castelo com traços medievais, em Pedras Altas, a poucos quilômetros de Pinheiro Machado. O Sr. Assis Brasil tinha casado com uma nobre européia e queria dar-lhe um castelo para viver. Meu avô aceitou a proposta e instalou-se na regiao. Nesta época, ele tinha duas filhas em idade de escolarizaçao: minhas tias Luiza e Marina. Estas duas meninas tiveram classes com professores que o Sr. Assis Brasil contratava para suas filhas. Elas eram todas amigas e brincavam juntas. Minhas tias, quando eram adultas e já tinham partido daquela regiao há muitos anos, seguiam recebendo cartas das filhas do Sr. Assis Brasil.
Depois, meu avô foi construir pontes em Cacequi e em Bento Gonçalves.
Minha mae contava que seu pai era um homem de letras também. Ele lia tudo o que encontrasse pela frente. Segundo palavras dela, ele fez com que todos seus filhos estudassem - numa época em que o estudo era para os ricos. Ele era pobre, trabalhador, e, já naquela época, dizia que a herança que deixaria para seus filhos era a educaçao e a cultura. E tudo o que ele ganhava era investido na educaçao de seus filhos.
Lembro das histórias que minhas tias contavam que, para estudar, elas tinham que deslocar-se, diariamente, quilômetros e quilômetros a cavalo. Depois, para dar classes, a mesma coisa.
Sem dúvidas, ele alcançou seus objetivos, pois seus filhos estudaram e sempre apreciaram a leitura - como ele.
De certa maneira, eu vivo a experiência inversa. Às vezes, estando a 12 mil quilômetros das minhas origens, pergunto-me o que sentiria ele em relaçao a sua família e ao seu país. Eu vivo numa época em que a Internet e o telefone minimizam qualquer crise de saudade e onde a distância geográfica desaparece com os contatos diários. E ele? Como ele fazia para aliviar sua saudade? Estas perguntas ficam sem resposta, só no plano da imaginaçao.
domingo, janeiro 29, 2006
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